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Anónimo

2h24: monólogo interno sobre síndrome de impostor

O meu processo criativo diz muito de mim. (Uau, processo criativo, que intelectual e importante que ele é!). Estando a passar por um bloqueio criativo (again, uau, mas quem sou eu?), penso cada vez mais no porquê de não ter ideias e de quando as tenho não conseguir fisicamente escrever nada, de todo, ou nada que me agrade.


Já há muito tempo, apercebi-me que o meu processo criativo advém de uma epifania, pelo menos é isso que eu penso que é, ou de uma inspiração divina (claro, não acredito nesta última). Não gosto que seja assim. Nunca me considerei uma pessoa totalmente espontânea e render-me a uma eventualidade incerta e incontrolável porque dependo dela para resultados que sejam minimamente agradáveis para mim não é algo que me traz grande felicidade. Penso: se este meu talento, como dizem, é algo que só surge através destas chamadas epifanias será mesmo um talento meu? Se não o consigo dominar e usá-lo a meu favor quando e onde me convém, será mesmo um talento?


Sei que as minhas ideias surgem através de alguma associação ou de palavras-chave que eu leio, penso, imagino, elaboro e que se não as espremer e esculpir nas Notas do telemóvel ou no Word quando tenho o PC aberto, então nunca mais. A minha mente coloca-as num envelope endereçado a destinos indefinidos. Vão para o lixo e seguem no camião para se camuflarem na lixeira enquanto se deterioram. Nunca mais me é concedido acesso. Se eu nem sequer as consigo restaurar, serei mesmo um bom escritor como me têm dito vezes e vezes sem conta?


“Ok, analisa isto racionalmente!” Eu nem leio assim tanta poesia e às vezes armo-me em poeta. E os livros que paro de ler passadas menos de cem páginas são quase tantos como aqueles que eu já li. Mas quem sou eu para dizer que gosto de ler e de escrever? Quer dizer, eu nem tenho uma biblioteca em casa. “Ok, calma lá, bolas de neve no verão e a esta hora não!”


Às vezes escolho não pegar nos tais conceitos epifânicos porque estou a fazer qualquer outra coisa, porque tenho de estudar ou de me encontrar com certa pessoa(s). Abdico delas sabendo que serão inatingíveis passados meros minutos. Se me são assim tão descartáveis (não são, eu sei que me dão uma certa plenitude), serei mesmo um bom escritor?


O Saramago escreveu em média duas páginas por dia ao longo da sua vida e eu se escrever mais de dez linhas semanalmente já me aplaudo. “Ok, nem vale a pena continuar, mais vale calares-te, voz interior, aproveita esses regalos de Deus (ou whatever it is) e deixa-me dormir.” Boa noite!



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