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Maria Leonor Baptista

Rio

Fim do ano traz nostalgia, uma certa vontade de viver tudo o que fomos adiando ao longo dos dois semestres longos, últimos dias, viver tudo de uma vez, porque só se vive uma vez. O último teste do semestre, aquela aula, a única de todas, a que nunca faltámos, do inicío ao fim, o rapaz da fila da frente que não falha uma única cadeira, o professor doutor claramente cansado da turma, as olheiras... mas é só mais aquele esforço. A seguir, há jola no São Paio e umas quantas semanas académicas onde ir, mais um ensaio da tuna, jantar de amigos no lidl, devido à precária conta bancária e malas feitas para casa, não esquecer de levar o Código Civil atrás, Deus nos livre de nos esquecermos!


Todos os amigos antigos "em casa", mas ninguém se encontra, afinal de contas, agora são exames. Também já não é a mesma coisa, falta é o barulho do pessoal do 2ºano, o 3ºano reivindicativo e o 4º que quer meter medo.


É olhar para trás, para onde é que Setembro já foi? Vir de t-shirt para a faculdade, ser praxado e a maior preocupação ser microeconomia. Agora, é mais pesado. O limbo entre trajar e ser ainda aluno do 1ºano, a dúvida dos créditos necessários para chegar ao 2ºano, querer continuar nos núcleos, formar mais núcleos, ver padrinhos a ir embora, ter medo das mudanças, manter os amigos.


Como atravessar a ponte, depois de regressar da casa daquela amiga, de repente silêncio, acabaram as aulas, estou num comboio e depois volto para casa do pai, com um manual de casos práticos e um trolley minúsculo, de quem não chega propriamente a ser deslocada, mas que anda sempre de um lado para o outro. E estou por cima do rio, é lindo e ao ver aquilo e ao pensar para trás, desde Setembro, desde o animus, desde o traçar, desde a margem, fui mais eu do que nunca, fui feliz como não fui antes. Pensas que se o comboio fosse parar ao rio tinhas sido feliz, mas tens medo, que não caia por favor, quero isto outra vez, viver mais, sorrir mais. Passar a cadeiras, ir a festas, organizar festas, abraçar padrinhos, levar as amigas a dormir lá a casa, ser da tuna, ser da praxe, ser de Direito.


É estranho pensar no sentimento de pertença mas se tivesse de definir diria que é aqui, agora sim.


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