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Maria Leonor Baptista

Casa

A casa já não é casa. Quarto antigo já não me representa, já não consigo visualizar tão nitidamente as memórias daqui, só as do ano antes deste, quando nada era bom para mim.

O que ainda significa quero trazer comigo.


Vou para casa, para a casa onde vivo, (da família, às vezes com família) mais leve, porque agora posso escrever em paz, em silêncio e posso fazer tanto barulho. Não é barulho dentro da minha cabeça, é barulho de música com amigos, de debates irrelevantes sobre temas desinteressantes.


É ter a chave da porta, é ter a resposabilidade de não perder a chave da porta, é tentar abrir pela primeira vez a porta e ter de pedir ajuda na porta do lado. Descer as escadas de manhã, entro no autocarro e quando digo bom dia, reparo que ainda não falei de manhã. E isso é tranquilo, e deixa-me feliz que depois disso não me vou "calar". Bom dia ao motorista de autocarro, bom dia a toda a gente na faculdade (porque tenho a mania de que conheço meio mundo). É o barulho que eu quero ecoar, mas que não tenho de ouvir cá dentro.


É voltar para casa e merda... as chaves não estão na mala, vê o bolso, vá lá. Eis as chaves, já posso abrir sem que a vizinha do lado me queira ajudar, e vou encontrar a casa quente, de final de tarde, de volta a um silêncio bom, não é solidão, é independência. Conseguir abrir a porta por mim mesma, por mim.


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