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Isabel Costa

A realidade de ser só mais uma

A eterna pergunta: quantos sapos tens de beijar antes de chegar ao teu príncipe? Será que os homens pensam nisto? Será que têm de pensar? Será que interessa?


A vida académica oferece-nos dos momentos mais bonitos que podemos viver, oferece-nos paixão e mistério, chama e felicidade (a uns até oferece amor), mas também oferece muita desilusão e angústia. Entramos todos no mesmo sítio e saímos todos juntos, mas será que passamos todos pela mesma experiência? Uma grande parte da vida de qualquer estudante é ir sair à noite, viver a loucura dos anos de universidade e cometer erros… e sejamos honestos, todos os cometemos, mas nem todos os sofremos da mesma forma. Eu vejo raparigas incríveis, bondosas, inteligentes, acima de tudo, ambiciosas, a perderem-se em rapazes que se tornaram semideuses pela lei da oferta e da procura. Amigos, não se iludam, é simples, a oferta é escassa e a procura é elevada, aumentando assim o valor dos produtos. Não é isso que o mercado livre nos ensina há anos?


Vemos isto no nosso dia a dia, lutamos contra a sua concretização, lutamos para que as pessoas sejam apenas pessoas e não tenham um qualquer valor inflacionado associado, que sejam quem são pela sua personalidade e não pelo seu órgão sexual. Pelo menos, é isto que tentamos fazer com as mulheres, que sejam todas iguais, que tenham todas o mesmo valor, que possam todas viver livremente e abertamente e, depois, vemo-nos confrontadas com o sexismo sistémico que torna os escassos rapazes da nossa faculdade numa espécie de panteão sexual, em que podem dizer e fazer o que lhes bem apetecer, sem apreço por quem magoam no caminho ou pelas inseguranças que criam; tudo isto por serem apenas isso, escassos. Devo dizer que são um caso de estudo fascinante, uma minoria não discriminada…


Por muito que apelemos ao amor próprio e à independência, não confundam as coisas, pois elas não são mutuamente exclusivas, ser feminista e querer sexo/amor é uma realidade, poupem-me o discurso. Ninguém quer estar sozinho numa quinta à noite, ninguém quer ser a pessoa ignorada, renegada para um canto, no fundo, ninguém quer ser invisível – queremos todas tentar a nossa sorte e que, os poucos que existem, reparem em nós. Queremos divertir-nos e viver a nossa vida de jovens adultas, como todos querem, e acabamos objetificadas (não há nada de novo aí) e gozadas, como se não estivéssemos a fazer exatamente o mesmo que todos os rapazes também fazem (honestamente, nós não nos beijamos a nós próprios, ok? Tem de haver uma contraparte) e, no dia seguinte, ainda temos de nos levantar e ouvir a faculdade falar sobre as nossas vidas pessoais e em como fomos só mais uma… só mais uma gota no oceano… aquela que ele comeu ontem. Posso andar desatenta, mas não me lembro de ter ouvido a história ao contrário ainda, ou, se a ouvi, não foi bem com o tom glorioso com que os rapazes a partilham, foi com um tom de pesar e nojo que ascende nas vozes nestes momentos. Que grande double standard! E tudo numa faculdade em que as raparigas estão em maioria.


Poupem-me! Se nós somos só mais uma, eles também o são, no entanto, não tendemos a ouvi-lo assim, as mulheres são eternamente umas românticas desesperadas (pelo menos, é o que tenho entendido da representatividade feminina nos filmes…) à procura do rapaz perfeito que lhes pegue ao colo e leve a passear de cavalo. Que visão maravilhosa! Acho que me vou emocionar. Por favor! É quinta à noite, não é o teu cavalo que nós queremos ver. As mulheres não são só uma coisa, nem só um momento, nós queremos divertir-nos e queremos o nosso respeito. Queremos escolher ter dias em que vocês são só mais um e outros em que procuramos o um que vai interessar no fim das contas. Queremos ter dias em que não queremos nenhum e dias em que queremos todos. Queremos ter dias em que duvidamos do que queremos e dias cheios de certezas. Queremos ter todos os sentimentos a que temos direito, lágrimas no fim de um filme romântico, alegria após um beijo doce, paixão numa noite ardente e raiva quando somos SÓ MAIS UMA. Somos pessoas, não bonecas para brincar e mandar para a reciclagem. Vocês também não querem ser só mais um, porque é que acham que nós queremos? Somos todos jovens adultos e queremos todos divertir-nos e encontrar o nosso caminho, só peço que, no entretanto, sejamos todos tratados da mesma forma pelas mesmas ações.


(Peço, desde já, desculpa a todas as masculinidades frágeis atingidas no processo)


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