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Isabel Costa

Adultos dão-me esperança

Adultos dão-me esperança.


Quando era mais nova colocava os adultos num pedestal, como se fossem o nível máximo que nos era possível atingir, aqueles que já sabiam tudo e conseguiam resolver qualquer desafio que a vida lhes atirasse.


Ah, que bonito que aquilo tudo parecia! Saber lidar com tudo o que acontece e ainda sair por cima. Como se houvesse algum tipo de poção mágica que nos é dada quando fazemos dezoito anos que faria com que a vida fizesse sentido e as coisas funcionassem sempre na perfeição.


Obviamente quando eu fiz dezoito anos, apercebi-me que isso nunca iria acontecer e que continuava a ter exatamente os mesmos problemas e inseguranças que tinha no dia anterior, absolutamente nada tinha mudado e nada parecia estar perto de mudar. Ainda não conseguia entender completamente qual o tamanho de calças que usava, quanto mais todos os problemas que o universo me pudesse lançar.


Então meti na cabeça que eu era adulta, mas só no papel - não era ainda uma adulta a sério, uma adulta premium, era mais tipo uma adulta light - do género que pode viver sozinha e comprar álcool, mas ainda tem de ligar à mãe de vez em quando para perceber porque é que o esquentador está a fazer um barulho estranho.


Até que este verão me rodeei de muitos adultos premium e me comecei a aperceber que eles também pareciam muito adultos light, que também eles ainda estavam a lidar com todas aquelas merdinhas com que lidamos desde que somos conscientes e isso era aterrador, porque isso significa que nada disso iria alguma vez se resolver para mim.


Os adultos premium também odeiam as suas pernas e querem ter menos cinco quilos.

Os adultos premium também escondem as suas crushes e insistem que são só amigos (por muito que TODA A GENTE JÁ TENHA PERCEBIDO).

Os adultos premium também têm ciúmes.

Os adultos premium também choram todas as lágrimas que têm e as que não têm quando as suas relações de três meses acabam.

Os adultos premium também só querem dormir mais cinco minutos.

Os adultos premium também fazem birra quando a televisão perde o sinal.

Os adultos premium também fazem piadas sexuais e riem-se de gases.

Os adultos premium também ligam aos amigos a fofocar.

Talvez eu até já seja uma adulta premium.

Talvez isso até seja ok.


Especialmente porque, por muito deprimente que a ideia de nunca ultrapassarmos as merdinhas que os meandros da nossa consciência nos proporcionam e nunca sermos efetivamente capazes de resolver todos os problemas que o universo nos atire possa ser, estar com todos estes adultos deu-me esperança.


E essa esperança reside na cura que todos eles encontraram para os seus problemas (talvez não seja bem uma cura, mais um atenuador ou minimizador, mas o efeito, por momentos, quase que parece o mesmo), cura essa que, aliás, todos nós, em qualquer idade também já encontrámos sem sequer o tentar: uma mesa rodeada de amigos. Amigos que nos fazem esquecer que temos uns quilinhos a mais e estamos a perder cabelo, que não dormimos o suficiente e que já não temos azeite em casa há três dias e o nosso amaciador favorito está fora de stock há semanas, ou talvez amigos que nos mostram que nada disso é realmente importante - amigos que nos fazem rir até sabermos que alguém nos conhece verdadeiramente e que somos apreciados e amados ali e a vida não precisa de ser assim tão assustadora.


Talvez ser adulta não seja algo assustador, nem para o qual não estejamos preparados, talvez seja só mais uma aventura repleta de experiências para partilharmos sobre uma mesa velha da Sagres num churrasco lá em casa.


O que os adultos, sem dúvida, me ensinaram é que um churrasco fica muito mais fácil se cada um trouxer uma coisa, um leva a salada, outro os queijos e enchidos, outro traz a cerveja e alguém há-de se lembrar do pão. Quem organiza não precisa de tratar de tudo e é mais acessível se dividirmos os custos por todos e, claro, por amor de Deus, lembrem-se de ir fazer companhia ao mestre da grelha. It gets lonely out there.

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