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Pilar Silveiro

As borboletas da independência

Não sei se posso começar por dizer neste texto que este já foi, (ou continua a ser), um desejo que todos nós temos. Eu pelo menos sei que o tive e tudo devido a um daqueles livros teen, que li com os meus doze anos. Esse tal livro, que já nem me recordo do nome, foi o livro que despertou em mim a vontade de estudar no estrangeiro. Eu sei, provavelmente estavam à espera de um sonho maior. É um facto que todos nós conhecemos pelo menos uma pessoa que já o fez, é algo que atualmente até se pode considerar bastante banal, mas era o meu sonho. E os sonhos não se medem aos palmos.

Passaram os anos e, infelizmente, nunca surgiu oportunidade para conseguir concretizar este sonho, que me seguiu até ao final do ensino secundário. Mas, para minha surpresa, nesse mesmo ano, em junho de 2022, recebi a notícia que ia embarcar numa aventura que LITERALMENTE mudou a minha vida. Sim, acabei de usar a típica frase cliché do “mudou a minha vida”, mas podem ter a certeza de que não há melhor frase para definir esta viagem.

Dia 10 de julho de 2022, embarquei, completamente sozinha, num voo com destino a Dublin. Dublin era apenas o ponto de paragem, pois o destino final era o Aeroporto Internacional de Los Angeles. Tal como qualquer outra pessoa com dezoito anos, estava a sentir um misto incrível de sentimentos, que intercalavam do nervosismo ao excitamento total. Com uma mala quase maior que eu (levei o meu armário inteiro, nunca se sabe que outfit podemos acabar por desperdiçar), cheguei ao aeroporto de Lisboa confiante de que tudo ia correr bem. Porque não haveria? Que eu saiba não estou em nenhum filme da Bridget Jones, achava eu...


Começou logo tudo mal quando aquele típico senhor do check-in que, apesar de serem seis da manhã, estava com uma cara que já não conseguia aturar mais ninguém, como se tivesse chegado ao limite do seu dia – aquela cara que todos já fizemos a olhar para a matéria de constitucional - e me despachou apressadamente, a dizer que estava a haver um erro qualquer informático e que apenas me conseguia dar um dos dois bilhetes de embarque – “Basta mostrar isto quando chegar a Dublin e vai servir” – está bem, está.


Assim que passei a alfândega senti algo que nunca tinha sentido em toda a minha vida. Um sentimento de liberdade e independência inexplicável, senti que era capaz de fazer tudo. Se me permitirem, até direi que senti borboletas na barriga, não daquelas parvas que sentimos quando temos catorze e gostamos de alguém, mas sim de umas fortes, que nos fazem olhar o mundo com outros olhos e que são sempre tão fáceis de recordar, as borboletas da independência.


Mas, retomando, quando aterrei em Dublin, acordada pelo piloto e os seus suspiros de boca colada ao microfone – nada satisfatórios, completamente contrários a um vídeo de ASMR - num chinês disfarçado de inglês (porque irlandês não se percebe de todo, não se deixem enganar pelos Peaky Blinders), fui informada que o voo se atrasou e que tinha apenas vinte minutos para apanhar o voo para Los Angeles, num aeroporto que não conhecia. Corri pela minha vida e quando cheguei, fiz o que o senhor do check-in me tinha dito. Podem adivinhar o que aconteceu a seguir. Já que estamos numa época de exames, vai como uma resposta de escolha múltipla: a) apanhei o voo e fui feliz para Los Angeles; b) não me deixaram passar, porque não tinha o bilhete de embarque, perdi o voo, mendiguei uma noite no aeroporto de Dublin sozinha e tive que comprar um voo para o Canadá (única maneira de chegar a LA no dia a seguir).


Acho que a resposta é óbvia. Mas, não sinto que me possa queixar. Foi uma das melhores experiências da minha vida, um mês na Califórnia, especialmente em Santa Bárbara (cidade que me ficou muito querida), com grandes amizades e amigos de todo o mundo, não esquecendo também, da oportunidade de frequentar aquelas casas de banho tecnológicas, em Vancouver, em que se levanta o rabo e o autoclismo puxa sozinho (ansiosa que essas cheguem a Portugal, uma maravilha).


Hoje sei duas coisas, e provavelmente não mais, que já estamos a chegar ao fim de Janeiro e me estou a transformar num autêntico Sócrates: se não fosse por esta viagem, em que as minhas borboletas da independência voaram tão alto, eu estaria muito mais desesperada com esta mudança de estudante deslocada; e que, se um dia quiserem uma tour completíssima ao aeroporto de Dublin, eu posso dá-la de bom grado.

Por isso já sabem, se algum dia sentirem uma necessidade enorme de se tornarem mais independentes, façam uma viagem estilo Bridget Jones, prometo que resulta.


P.S.: Fui burlada no Canadá e fiquei sem malas durante uma semana nos Estados Unidos (imaginem o pânico, tinha lá o meu armário).


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