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Mariana Carvalho

As meninas também sabem jogar à bola

É indiscutível que, desde sempre, o futebol foi visto como um desporto de homens, e para os homens. Da mesma forma que desportos como a ginástica sempre foram vistos como sendo de mulheres, e para as mulheres. Este estereótipo dos desportos existirem para serem praticados consoante um género específico é algo que está presente desde cedo - os meninos jogam futebol no recreio, as meninas não. É uma ideia parva, atrasada e não é uma realidade, existe apenas aos olhos de certos membros da sociedade, também eles parvos, e atrasados.


Felizmente, é também indiscutível que esta ideia tem sido ultrapassada ao longo dos tempos, e parece que as pessoas estão cada vez mais preparadas para se abrirem à ideia de que sim, as meninas também sabem jogar à bola. O problema da falta de representação das mulheres no desporto não existe só no futebol, mas sendo ele o desporto preferido dos portugueses, é fácil de perceber o porquê de lhe ser dado prioridade neste debate. Este problema também não parte apenas da falta de interesse dos adeptos. Francisca Nazareth, jogadora do Sport Lisboa e Benfica e também da Seleção Portuguesa de Futebol, falou recentemente, na eleven sports, sobre um encontro que teve com adeptos do seu clube, que a questionaram sobre o porquê de os jogos da equipa feminina não serem todos no Estádio da Luz, tal como os da equipa masculina. A mesma disse que também gostava que assim fosse, mas que não sabia se valia a pena abrir o estádio para jogos que, muitas vezes, apenas tinham 200 pessoas a assistir. Os adeptos responderam que, não importa o jogo ser de futebol feminino, as pessoas vão querer apoiar o seu clube. Ao abrir mais vezes as portas ao futebol feminino, mais oportunidades os adeptos vão ter de ir ver, de apoiar, até se tornar um hábito, vão se gerar melhores resultados, porque as atletas também vão estar mais motivadas, e com esses resultados, ainda mais pessoas vão começar a aparecer, e é assim que o desporto cresce - “A partir daí, as pessoas iam começar a ir aos jogos, a ver que o nosso futebol é bem jogado” - como disse a mesma. Claro que neste exemplo falamos do Benfica, um clube com mais condições de desenvolver a modalidade em comparação a outros, algo que também é um problema impossível de ignorar.


Esta dificuldade que o desporto feminino tem em desenvolver-se parte muito do pouco destaque que lhe é dado por aqueles que têm esse poder. Afinal, como é que as pessoas sabem que podem apoiar o futebol feminino se muitas vezes nem sabem o que está a acontecer? Por exemplo, em fevereiro, a seleção portuguesa feminina de futebol venceu os Camarões e garantiu o apuramento para o mundial do próximo ano, algo que nunca antes tinha acontecido. Este acontecimento chegou à capa do jornal “A Bola”, sim, mas em letras pequenas e no rodapé, certamente um lugar de destaque digno para o que as atletas portuguesas conseguiram conquistar.


É possível chegar à conclusão que o grande problema não é a falta de interesse das pessoas, sim, este ainda não é enorme, mas está a crescer. Os jogos têm cada vez mais audiência - atingiu-se um novo recorde de assistência num jogo de futebol feminino oficial em Portugal (15032 espectadores) em janeiro deste ano, num dérbi entre o Sporting e o Benfica - o que demonstra o novo entusiasmo que se começa a sentir entre os adeptos. O que falta realmente é esse entusiasmo ser acompanhado com informação e notícias sobre os jogos, as atletas e as novas conquistas que tanto custam a ganhar. Afinal, sendo o futebol um desporto tão querido em Portugal, de certeza que também há espaço (e vontade) para ver as meninas a correr atrás da bola.

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