Segue-se um excerto do Relatório sobre o Inquérito aos alunos sobre a saúde mental, realizado pelo Jur.nal. Incluímos aqui introdução, as estatísticas recolhidas e uma análise das principais conclusões a retirar destes dados. O Relatório final será publicado em breve.
Introdução
A saúde mental é um tópico incrivelmente popular entre a nova geração de alunos. É igualmente popular debater-se a sua falta. As palavras “depressão” e “ansiedade” são banais nas conversas em campus, e a faculdade é apontada como a responsável, quer por causa de aulas, trabalhos e exames, quer pela falta de recursos que esta dispõe para combater estes problemas.
No entanto, à data, não foram recolhidos dados sobre a saúde mental dos alunos da Nova School of Law que permitam uma compreensão em grande plano deste problema. O Jur.nal, o Jornal Oficial dos Estudantes da NOVA School of Law, tomou a liberdade de colmatar esta falha, realizando um inquérito geral aos alunos.
O inquérito começa com a questão “És aluno da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa?”, de forma a delimitar a população inquirida. Das 121 respostas recolhidas, 4 foram negativas, sendo esses participantes automaticamente excluídos do restante inquérito. Assim, presume-se a participação de 117 estudantes da nossa faculdade neste inquérito, que se divide em 4 partes:
Questões relativas a sintomas de ansiedade e depressão, onde os inquiridos responderam a um conjunto de perguntas usadas para diagnosticar ansiedade e depressão;
Questões relativas a acompanhamento e historial psicológico e psiquiátrico, onde se inquiriu sobre a relação dos alunos com serviços institucionais de saúde mental, bem como comportamentos autolesivos;
Questões relativas à relação entre a faculdade e saúde mental, onde se analisou o impacto da faculdade na saúde mental dos alunos, bem como as suas opiniões em relação aos seus serviços de saúde mental;
Testemunhos pessoais, onde os estudantes tiveram a opção de escrever breves textos sobre as suas experiências pessoais com saúde mental, e com serviços de saúde mental, dentro e fora da faculdade. Foram recolhidos 15 testemunhos.
Questões relativas a sintomas de ansiedade e depressão
Questões relativas a acompanhamento e historial psicológico e psiquiátrico
Questões relativas à relação entre a faculdade e a saúde mental
Conclusão
Iremos analisar e destacar, secção a secção, as principais conclusões a retirar.
Atendendo à secção “Questões relativas a sintomas de ansiedade e depressão”, apesar de reconhecermos as limitações deste meio de testagem psiquiátrica, parece-nos seguro constatar que a maior parte dos alunos apresenta sintomas de ansiedade ligeira ou moderada. Destaque-se:
81,2% afirma sentir-se nervoso ou ansioso com alguma frequência ou constantemente;
68,3% não consegue controlar esta ansiedade com alguma frequência ou constantemente;
75,2% sente dificuldades em relaxar com alguma frequência ou constantemente;
89,7% afirma preocupar-se demasiado com muitas coisas com alguma frequência ou constantemente.
Considere-se, também, que a percentagem média de estudantes que responderam “Constantemente” a estas e demais questões relacionadas com sintomas ansiosos é de 29%, o que poderá significar que mais de um quarto dos inquiridos pode apresentar sintomas severos de ansiedade.
Já no que toca a sintomas depressivos, estes parecem mais ligeiros. No entanto:
55,5% sente-se em baixo ou sem esperança no futuro com alguma frequência ou constantemente;
65,8% tem dificuldades em adormecer ou dorme demasiado com alguma frequência ou constantemente;
76,1% sente-se cansado ou com pouca energia com alguma frequência ou constantemente;
68,4% tem dificuldade em concentrar-se com alguma frequência ou constantemente.
A percentagem média de estudantes que responderam “Constantemente” a estas e demais questões relacionadas com sintomas depressivos é de 23,9%, o que poderá significar que quase um quarto dos inquiridos pode apresentar sintomas severos de depressão.
Destaque-se que apenas 71,8% dos estudantes afirmam nunca ou quase nunca pensarem em se magoarem ou cometerem suicídio.
Quando questionados sobre o grau de afetação que estes potenciais sintomas tiveram no seu plano pessoal, familiar e académico, de 1 a 5, 49,6% responderam 4 ou 5, ou seja, quase metade dos inquiridos foi bastante ou severamente afetado pelos problemas aferidos.
Atendendo agora à secção “Questões relativas a acompanhamento e historial psicológico e psiquiátrico”, confirmamos que uma percentagem significativa dos estudantes inquiridos têm experiência com sistemas de saúde mental:
30,8% dos inquiridos tem acompanhamento psicológico, e 31,6% já teve;
16,2% tem acompanhamento psiquiátrico
25,6% está diagnosticado com uma doença psiquiátrica
25,6% toma medicação para lidar com sintomas ou doenças psiquiátricas
No que toca a comportamentos autolesivos, reitera-se o supra exposto, tendo 18,8% dos alunos um historial de self-harm e 20,5% um historial de ideação ou tentativas de suicídio.
Agora, analisemos a secção “Questões relativas à relação entre a faculdade e saúde mental”.
Olhando para a experiência dos estudantes com os Serviços de Psicologia dos Serviços de Ação Social (SAS), 7 dos estudantes inquiridos são aí atualmente acompanhados, e 4 já foram. No entanto, 36,8% dos inquiridos não dispunha sequer conhecimento da existência deste serviço.
Confirmando a sabedoria popular, o impacto da faculdade na saúde mental dos seus estudantes é sobretudo negativo. Inquiridos, numa escala de 1 (muito negativo) a 5 (muito positivo):
49,6% afirmaram ter um impacto negativo;
35% afirmaram ter um impacto neutro;
15,4% afirmaram ter um impacto positivo.
No que respeita à atuação da faculdade e universidade nesta matéria, denota-se um grande grau de insatisfação, tendo 96,6% dos inquiridos respondido querer uma maior promoção e investimento destas instituições na sua saúde mental, e 76,1% respondido não achar que estas dispõe dos meios necessários para zelar por ela.
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