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Campanha de Saúde Mental: Testemunhos

Segue-se um excerto do Relatório sobre o Inquérito aos alunos sobre a saúde mental, realizado pelo Jur.nal. Incluímos aqui os testemunhos recolhidos e uma análise das principais conclusões a retirar a partir destes. O Relatório final será publicado em breve.


Testemunhos pessoais

Foi dada a opção aos inquiridos de fornecer um curto testemunho pessoal, focando-se  nas suas experiências pessoais com a sua saúde mental, com serviços de saúde mental nacionais, públicos ou privados, com o impacto da faculdade na sua saúde mental, e com os serviços de saúde mental da Universidade. Foram recolhidos 15 testemunhos:


  1. Tenho acompanhamento psicológico e demorei muito tempo a tê-lo . Sinto que aprendi bastante acerca de mim e o impacto que certas ações têm sobre mim. Não me considero maluca nem perto nem de longe e acho que isso não está sequer em questão. O que está efetivamente em questão é o facto de eu ser uma pessoa tal como as outras e que tem problemas como os outros. Precisava de arranjar ferramentas para combater estes problemas que tanto dificultam o nosso dia a dia. Se és uma pessoa mas consideras que não tens justificação para ir ao psicólogo, pensa melhor. Todos temos justificação para procurarmos acompanhamento. Não desvalorizes os teus problemas nem ponhas em questão o quanto mereces ser feliz. Não vou mentir, muitas vezes requer coragem, porque por vezes ouvimos coisas que não queremos ouvir mas que precisamos. Mas pensa que vale a pena. Não há vergonha em pedir ajuda, todos precisamos. Boa sorte

  2. Em 2022, após contar o quase suicídio do meu pai, a suposta psicóloga profissional dos SASNOVA com quem tinha consulta simplesmente me respondeu que eu 'tinha muito em que pensar'. Não me tentou ajudar, não me tentou compreender, simplesmente terminou a consulta quando ficou mais sério. No entanto, tinha imenso interesse na minha situação de bullying dentro da comunidade académica da faculdade --- e é verdade, esta faculdade já teve (e tem, mas menores que antigamente) severos problemas de animosidade: pressão académica, pressão social, rumores, mentiras, fofocas e simples tensões e competitividade entre alunos. Somos todos amigos, e somos todos inimigos. Juntando isto a uma competitividade e nihilismo que acompanha o curso, e a falta de profissionais suficientes para acompanhar-nos e temos uma receita para o desastre.

  3. Quando andava no secundário comecei a ter crises de ansiedade que me impediam de ir à escola. A minha mãe contactou o centro de saúde, que disponibilizava consultas com psicólogos, mas foi-lhe dito que só daqui a uns longos meses é que poderia haver uma vaga. Provavelmente como não fui atendida a tempo, a ansiedade transformou-se em depressão. Já não via sentido na vida, mas nunca tentei nada para o bem dos meus familiares, embora tenha pensado nisso muitas vezes. Foi aí que os meus pais decidiram recorrer a clínicas privadas para me ajudarem. A minha primeira psicóloga fazia jogos e testes, o que era bastante interessante, mas nunca senti nenhuma afinidade com ela. A segunda agia de maneira completamente diferente à frente da minha mãe e em frente a mim. À frente da minha mãe dizia que podíamos fazer jogos caso a consulta calhasse num dia em que não me apetecia falar e à minha frente negava essas atividades, julgava os meus problemas e dizia-me que tinha a certeza que eu lhe andava a esconder coisas. É verdade que sempre fui uma pessoa muito ansiosa, mas não sei como é que a ansiedade se transformou em algo tão bizarro que passou a controlar a minha vida. Quando já estava a acabar o secundário, a minha mãe recebeu um e-mail a dizer que já havia vaga para mim no centro de saúde. Com tantas peripécias e obstáculos vividos neste testemunho, não sei como é que ainda aqui estou.

  4. A minha saúde mental custa 160 euros por mês. 70 por consulta de psicologia (viva ao privado), 20 pela medicação. Fora os meses amaldiçoados em que também há consulta com a psiquiatra a 60 euros. Já mencionei que estamos a averiguar se é necessário mais medicação para os meus sintomas? É-me absolutamente vital, e ainda assim um luxo. Os serviços sociais da universidade podem ser a chave para apoiar as centenas de alunos que não têm meios para adquirir estes serviços, mas se, e só se, os órgãos competentes quiserem colmatar as suas falhas e investir o suficiente neste serviços.

  5. Tive muitos problemas familiares desde sempre o que me levou a desenvolver síndrome do pânico e quadros depressivos frequentes. Tinha acompanhamento psiquiátrico apenas no SNS. No meu segundo ano de faculdade, consegui apoio psicológico também no SAS da Nova. Nesse mesmo ano, tive que lidar com uma gravidez indesejada, o que me levou a ter muitos ataques de pânico, idealizações suicidas e desespero completo. Quando mais precisava, o meu psiquiatra saiu do SNS e fiquei desamparada. Tudo o que tinha era a psicologia do SAS Nova. Prontamente, sabendo da minha situação, ajudaram-me muito e arranjaram-me apoio psiquiátrico também. Embora a faculdade precise de mais recursos para o apoio psicológico, só podendo atender os casos mais graves, não me posso esquecer de tudo o que fizeram e fazem por mim. Tenho consultas semanais de psicologia e semestrais de psiquiatria, tomando um antidepressivo há um ano. Sinto-me apoiada e estável, mesmo reconhecendo que não é a experiência comum. Precisamos de mais apoio para haverem mais casos de sucesso como o meu. Não estou curada e tenho o privilégio de conseguir pedir ajuda para mim mesma, mas sinto-me com uma rede de apoio que não conseguia ter sem o SAS Nova. Não pago nada pelas consultas por ser aluna bolseira e pedir apoio financeiro. Gostava que esta fosse a experiência comum.

  6. Sinto-me triste pelo facto da saúde mental, que é algo tão importante, ser também um tema tão complicado e controverso, principalmente nas universidades. Termos de esperar uma década para ter acesso aos serviços de saúde mental públicos não é normal e, consequentemente, ter de dar um rim para ter acesso aos serviços privados, também não o é. Já para não falar que as constantes bocas que levamos por “antes não ser assim” e “antigamente as pessoas não serem tão fracas”, causam uma constante frustração e sentimento de desespero. Quanto aos serviços da faculdade, nunca fui, uma vez que estão sempre cheios. No entanto, considero que a universidade pouco zela pelo bem estar e pela saúde mental dos alunos, ao estarem sempre preocupados com tudo menos isso - como se, por exemplo, só interessassem as cadeiras que o próprio professor dá ou como se o estudo e as aulas fossem muito mais importantes que a saúde mental e física (inclusive, certos professores admitem que a nossa saúde pouco lhes importa). Acho uma falta de consideração da universidade ao não ouvir o que os alunos pretendem (principalmente no que toca às avaliações) e ainda mais de sermos continuamente rebaixados por não chegarmos a um nível que os mesmos consideram “perfeito” (porque de perfeito nada tem). É tudo muito bonito para fora, mas mesmo com todo o esforço, já não há como esconder a verdade: a preocupação com o próprio umbigo vai ser sempre mais importante que a saúde dos alunos.

  7. Nestes últimos anos tenho vindo a desenvolver sintomas de ansiedade desmedidos e que de forma muito negativa têm vindo a influenciar a minha forma de estar e a minha capacidade de pensar e lidar com as coisas que me rodeiam. Neste sentido, tentei procurar ajuda psicológica na faculdade, uma vez que tal me havia sido aconselhado, mas sem sucesso. A verdade é que a contactei esses serviços de psicologia em novembro e obtive resposta no sentido de terem disponibilidade apenas em maio do ano seguinte. Isto é completamente desumano. Felizmente tenho possibilidades de frequentar o privado, mas há muitas pessoas sem possibilidades para tal. Numa altura em que falamos tanto em saúde mental, é urgente rever a forma como a nossa nobre instituição disponibiliza o acesso ao acompanhamento psicológico, pois eu consegui ter ajuda, mas há quem não consiga.

  8. Estudar não é difícil, a falta de apoio dos professores é super desgastante. A ideia de que na universidade temos que ser mais independentes é um facto mas estamos ali para aprender e nenhum professor quer saber se aprendes bem ou mal, eles estão preocupados e em cumprir com os horários deles. Também acredito que os colegas tem um grande impacto e aquilo que observo é que eles não se ajudam nem são amigáveis. Tudo isso gera um peso acrescido. Ter apoio é super importante mas não está em lado nenhum que é possível pedir na faculdade. Importante divulgar

  9. Lido com problemas de ansiedade desde que me lembro de ser pessoa. Com a entrada na faculdade, a ansiedade piorou e com ela comecei a desenvolver sintomas depressivos, que me levaram a perder a esperança na vida em geral. Quem já passou por isso sabe o quão incapacitante se torna ver a vida a preto e branco e não conseguir ver um ponto de cor que nos guie para um caminho mais feliz. A nível de ajuda, no público foi impossível, esperar 2/3 meses por uma consulta com o médico de família é impensável numa situação em que só pedir ajuda já é difícil por si só. Felizmente, tenho a possibilidade de recorrer ao privado, e assim o fiz. Consegui a ajuda que precisava e melhorei substancialmente, mas, como qualquer batalha pela qual se passa, ficam marcas que não desaparecem tão rápido. Continuei a precisar de acompanhamento psicológico, mas pagar dezenas de euros por consulta, totalizando mais de uma centena de euros por mês em psicoterapia não é fácil, mesmo tendo as possibilidades para ter tido essa ajuda durante algum tempo, enquanto estudante deslocada o dinheiro também não permite “chegar a todo o lado” dentro das necessidades de saúde, alojamento, alimentação, educação, etc. Tive consultas pelo SAS Nova, mas foi preciso insistir muito para conseguir vaga a tempo, porque o tempo de espera era grande. Felizmente, hoje já estou melhor, mas continuo a precisar de tomar medicação ( embora numa dose mais baixa ) para conseguir ser funcional e não deixar que a ansiedade me impeça de atingir os meus objetivos.

  10. Relativamente à experiência com os serviços de saúde mental da Universidade posso dizer que ainda esperei alguns meses para conseguir a primeira consulta. Depois disso tive apenas 2 ou 3 sessões onde, apesar da simpatia do psicólogo, não senti um “match” nem me senti confortável para desenvolver determinados assuntos. Desde aí não tive mais consultas e o estado mental só se agravou por diversas razões. Não obstante, espero que este testemunho não vos impeça de procurar apoio junto de um profissional. Cada caso é um caso e pode ser que efetivamente os serviços de saúde mental da Universidade vos consigam ajudar. Experimentem ir a uma sessão, mal não faz!

  11. Eu sempre tive problemas de validação académica. Também desde pequena que sofro de insónias. No que consta a faculdade, especialmente os horários (este ano tivemos dias das 9 às 7, culminando em 9 horas de aulas..), tenho sentido que não há a mínima preocupação pela saúde mental dos alunos. O facto de muitos alunos viveram extremamente longe da faculdade não é tudo em conta, nem o facto de que simplesmente ninguém consegue manter o foco durante esse tempo todo.

  12. O psicólogo da NOVA permitiu-me ter acesso a acompanhamento profissional de uma forma acessível, usufruindo há mais de um ano consultas semanais pelo custo de 5€. Algo que para todos devia ser essencial, a linha de apoio de psicólogos da NOVA, é extremamente competente e desde sempre procuraram em acomodar as minhas necessidades.

  13. Sempre tive TDAH, mas só foi preciso medicar-me depois de começar a faculdade. Minha ansiedade piorou e tive recaídas num transtorno alimentar passado. Penso que a faculdade teve grande impacto sobre isso, e minha psicóloga concorda. Todas as minhas piorias foram causadas pela faculdade e pela carga horária/estudos, mas nenhuma das minhas melhorias está relacionada a ela. Nem sequer sabia que tinha um serviço de saúde mental da faculdade. Minha psicóloga e meu psiquiatra são privados, já que a rede pública tem uma fila de espera muito longa, e a única ajuda do governo é em cobrir parte da taxa dos meus remédios (antiansiolíticos, antidepressivos e suporte de foco).

  14. Fazer psicoterapia mudou a minha vida e continua a impactar de forma estrondosa a forma como vivo. Ensina-me a encarar a vida de forma mais leve e saudável. Fazer psicoterapia é duro e dá trabalho, muito. Mas depois faz bem e liberta. A faculdade, mais concretamente as fases de exames, contribuem em muito para o meu stress e ansiedade, porque tenho medo de não conseguir e de não ser competente. Acho muitas vezes que o meu valor depende das notas que tenho e esqueço-me que sou muito mais do que isso. Às vezes é difícil pôr tudo em perspetiva, mas sei que tenho crescido e sei também que esse crescimento se deve muito ao facto de ter ajuda.

  15. A saúde mental (ou a falta dela) sempre impactou a minha vida em inúmeras maneiras; no entanto, desde que entrei na faculdade, a minha saúde mental foi agravada pelo stress e ansiedade adjacentes à mesma. Assim que notei que me estava a afetar demasiado no meu quotidiano, decidi recorrer aos serviços de psicologia dos SASNOVA, não só pelo preço acessível a 5€ por consulta que não se encontra em mais lado nenhum, o que naturalmente ajuda um estudante deslocado como eu, mas também por ser no próprio campus de Campolide.  Escrevi um email em que especifiquei que era urgente, uma vez que soube que, caso não o fizesse, o tempo de espera por uma consulta seria enorme (perto de 3 meses), e passada uma ou duas semanas tive a minha primeira consulta. Desde então, foi-me dada a escolha entre frequentar consultas esporádicas sempre que sentir necessidade ou uma avaliação mais profunda semanalmente. Tendo escolhido a última, seria de esperar que tal fosse acontecer; porém, pela quantidade de alunos inscritos, era impossível que a psicóloga conseguisse encontrar uma vaga no seu horário de forma a fazer esse acompanhamento regular que fosse conciliável com o meu horário.  Assim, de grosso modo, acabei por ter uma consulta a cada 3 semanas, chegando a ter um intervalo de 1 mês, algo que não era o ideal para mim naquele momento. Ademais, a psicóloga não memorizava informação pertinente para todas as sessões, o que fazia com que me estivesse sempre a repetir e com que perdesse a confiança na nela. Lembro-me que, na minha última sessão, marquei a sessão seguinte, não pude ir e nunca mais fui contactado. Todas estas frustrações de expectativas, e já tendo uma ideia de como funcionam as sessões de psicologia por já ter tido uma psicóloga anteriormente, fizeram com que eu acabasse por sair.  Por último, quero deixar uma nota de que, apesar de ser esta a minha experiência, no que toca a sessões de psicologia, o que não funciona para mim pode funcionar para outros e vice-versa.


Limitemo-nos à análise de padrões que possam ter surgido, ou outras situações dignas de análise. Assim, dentro dos 15 recolhidos:

  • 7 testemunhos reportam transtornos psiquiátricos:

    • 7 reportam ansiedade (T. 3, 5, 7, 9, 13, 14, 15)

    • 3 reportam depressão (T. 3, 5, 9)

    • 1 reporta outros transtornos (T. 13)

  • 13 testemunhos reportam serem acompanhados dentro deste foro:

    • 12 reportam acompanhamento psicológico (T. 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9, 10, 12, 13, 14, 15)

    • 4 reportam acompanhamento psiquiátrico ou medicação (T. 4, 5, 9, 13)

    • 4 reportam listas de espera elevadas ou outras experiências negativas com o Serviço Nacional de Saúde, (T. 3, 5, 6, 9)

    • 5 reportam custos elevados, especialmente nos serviços de saúde mental privados (T. 4, 7, 9, 13, 15)

  • 7 testemunhos apontaram a faculdade por contribuir negativamente para a sua saúde mental:

    • 5 responsabilizam a pressão académica, os exames, e o estudo (T. 2, 6, 11, 13, 14)

    • 2 responsabilizam os horários académicos (T. 11, 13)

    • responsabilizam os professores (T. 6, 8)

    • 2 responsabilizam os outros estudantes (T. 2, 8)

    • 1 não responsabilizou um particular fator (T. 15)

  • 8 testemunhos reportaram experiências com os Serviços de Psicologia da Universidade:

    • 2 reportaram experiências positivas (T. 5, 12) 

    • 6 reportaram experiências negativas 

    • 5 por tempos de espera elevados ou sobrelotação (T. 6, 7, 9, 10, 15)

    • 3 por falta de conforto ou conexão com o profissional (T. 2, 10, 15)

  • 2 testemunhos reportaram desconhecimento da existência dos Serviços de Psicologia da Universidade, ou reportaram não existir divulgação suficiente destes serviços (T. 8, 13)

Esta amostra, apesar de refletir de certa forma os dados apontados anteriormente, por exemplo, no que toca à prevalência de ansiedade e insatisfação com a faculdade entre os estudantes, não poderá ser usada para retirar conclusões generalizadas. 


Assumindo a veracidade dos testemunhos recolhidos, não podemos, no entanto, deixar de destacar testemunhos específicos, por alegarem falhas de maior preocupação:


  • O Testemunho 2, ao reportar as suas experiências negativas com os Serviços de Psicologia da Universidade, afirma: “Em 2022, após contar o quase suicídio do meu pai, a suposta psicóloga profissional dos SASNOVA com quem tinha consulta simplesmente me respondeu que eu 'tinha muito em que pensar'. Não me tentou ajudar, não me tentou compreender, simplesmente terminou a consulta quando ficou mais sério.” Esta omissão de auxílio, em detrimento do seu cliente, preocupa-nos consideravelmente, constituindo uma violação do Princípio E. Beneficência e Não-maleficência, do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses;

  • O Testemunho 15, ao reportar as suas experiências negativas com os Serviços de Psicologia da Universidade, afirma: “Ademais, a psicóloga não memorizava informação pertinente para todas as sessões, o que fazia com que me estivesse sempre a repetir e com que perdesse a confiança na nela. Lembro-me que, na minha última sessão, marquei a sessão seguinte, não pude ir e nunca mais fui contactado.” A falta de preparação para as sessões, de certo causadas pela sobrecarga dos serviços também reportada, não deixaria de constituir uma violação do Princípio B. Competência do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses. Mais ainda, mesmo face a esta sobrecarga, o Princípio Específico 3.2. Encaminhamento de clientes deste mesmo Código obriga o profissional a indicar “os serviços de outros colegas sempre que não tenham competência ou manifestem impossibilidade de assumir a intervenção”, e não, como descrito, meramente cortar contacto com o paciente.


Assim, damos por concluída a análise das várias secções.



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