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Pedro Miguel Silva

Canção do Mar

Poesia


É triste a canção do mar

Que à noite, instante, me chama;

Narra momentos ao luar

Afundados já na lama.

Escuto-a num banco d'areia,

Não longe da escura costa;

Assim me encanta e desgosta,

Solidão feita sereia.

Está no marulhar das ondas,

Que vão e vêm tranquilas

Em indiferentes sibilas

Ante verdades hediondas.

Está na brisa leve e lassa,

Que segreda ao mar parado

Os infortúnios e o fado

De uma anunciada carcaça.



É calmaria traiçoeira

Que me quer pôr fim à viagem.

Traz-me ao limiar da voragem,

A uma funesta soleira.

Malévola melodia,

Rumorejando mentiras

Por um manto de safiras

A um ser em agonia.

Pede-me para mergulhar,

Sob a impávida lua,

Na água cálida e nua

Que não quis ainda esfriar;

Para que nela desvaneça

Tudo o que de mim existe,

Sem saber o que subsiste,

O que em mim arde e não cessa.

Não será ainda afogado,

Caído nas profundezas,

Depois de tantas empresas,

O meu ser no mar salgado;

Sinto os ventos de mudança,

Por fim frescos e risonhos,

E retomo os cem mil sonhos

Daqueles tempos de criança.

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