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Direção 23/24

Cartas de Natal Direção

Carta do António para a Inês

Querida Inês,

A conversa entre mim e a Sofia sobre ti foi simples. A Sofia informou-me que eras uma pessoa muito trabalhadora e empenhada, e ambos notámos que, das nossas poucas interações, parecias uma pessoa muito bondosa e pura. Assim, convidámos-te para formar lista connosco, e o resto é história.

Ao fim de mais ou menos dois meses e meio de mandato, e alguns extra de trabalho, consigo afirmar que estávamos certos. Fora a tua clara competência, és das pessoas mais amáveis que tive o prazer de conhecer, e gostaria de te conhecer melhor. Temos de marcar um jantar de direção neste próximo ano!

Sente-te sempre à vontade de falar comigo sobre tudo o que quiseres! Estou curioso, por exemplo, no teu processo criativo e sobre o que tens escrito.

Despeço-me desejando-te um feliz natal e mostrando-te o meu poema favorito, Ozymandias, a que me refiro nos meus textos vezes e vezes sem conta.

Beijinhos e feliz natal!

António

 

I met a traveller from an antique land

Who said: Two vast and trunkless legs of stone

Stand in the desart.[d] Near them, on the sand,

Half sunk, a shattered visage lies, whose frown,

And wrinkled lip, and sneer of cold command,

Tell that its sculptor well those passions read

Which yet survive, stamped on these lifeless things,

The hand that mocked them and the heart that fed:

And on the pedestal these words appear:

"My name is Ozymandias, king of kings:

Look on my works, ye Mighty, and despair!"

Nothing beside remains. Round the decay

Of that colossal wreck, boundless and bare

The lone and level sands stretch far away.

— Percy Shelley, "Ozymandias", 1819 edition


Carta do Francisco para o António

querido diretojo,

se for pouco coerente, ou não fornecer muitas demonstrações de pseudo-intelectualidade, culpe-se os meus brônquios e o strepfen e os outros não sei quantos medicamentos que estão no meu organismo enquanto escrevo esta cartinha.

devo confessar que dos membros da direção 21/22, foste o com que menos interagi. quando decidi que ia convidar a sofia a convidar-me para a direção, sabia que ias ficar e, mesmo assim, não te convidei a convidar-me. a pergunta é: porquê? eis a resposta, meu agora caro amigo: eu sentia-me completamente intimidado.

não consigo perceber agora a razão por detrás disto, mas era tal e qual numa série em que o nerd tem vergonha de falar com a menina popular bonita. tu és a menina popular bonita versão filosofal e jornaleira, com um cheirinho a borracha de havaianas e reivindicação. e eu, caloiro ambicioso e com vontade de pertencer ao grupinho dos populares (we are so them), tinha medo de ser humbled pela grandiosidade que vejo em ti.

admiro muito a pessoa que és e a forma de estar na vida que levas. adoro a forma de como assumes tudo o que és, aceitas tudo o que és, e dás 0 fucks para todos à tua volta. às vezes gostava (e precisava) de ser mais tojo.

sinto que só desenvolvemos a nossa relação quando entrei para a direção e que agora é tudo muito mais fluído, já não me sinto intimidado, sinto me tanto orgulhoso, como admirado, pelo que és, pelo trabalho que fazes, pelo que almejas ser e fazer.

que o ano que aí vem nos dê a oportunidade de fazer mais, nos relacionar mais, amigar mais.

grande grande beijinho,

- do rapaz a quem deste a oportunidade de sentar na mesa dos adultos<3


Carta da Inês para a Sofia

Querida Sofia,

O Natal nem sempre é uma época fácil, mas é a época, por excelência, de abrirmos o nosso coração ao outro. Portanto, aqui vão umas palavras do meu coração para o teu.

Um semestre de mandato passou e ainda me sinto como quando recebi a tua mensagem a convidar-me para fazer parte da direção: honrada com a responsabilidade, entusiasmada por poder ser parte (ainda mais) ativa na vida deste núcleo, receosa de não estar à altura. Destes quase três meses extraio a seguinte conclusão: tem sido um gosto tremendo trabalhar ao teu lado, e ver o empenho que depositas em cada coisa que fazes, por mais pequena que ela seja.

Queres saber uma coisa engraçada que nunca te disse? Recordo-me perfeitamente dos primeiros textos teus que li no Jur.nal. Um que me ficou particularmente marcado foi o “Fundo da piscina”- Lembro-me de o ler e ficar tão impressionada com a qualidade da escrita. Pensava para mim “como é que alguém da nossa idade escreve tão bem”. Mais tarde, tive a oportunidade de te conhecer melhor, e pude constatar, com alegria, que à talentosa escritora (acho que a designação é mais que merecida) corresponde uma pessoa de coração bom, com um sentido de justiça apurado e vontade de mudança a correr-lhe nas veias. Sei, e espero que o resto do Jur.nal também o saiba, a sorte que tem em ter-te como sua diretora.

Sofia, o país está um caos, o mundo está um caos. O Natal já não sabe da mesma forma do que quando era pequenina. O inverno é doloroso. Parece uma frase feita, mas acho que só a arte e os afetos nos vão salvando (ou pelo menos, é o que nos dá algum alento).

Numa nota final, quero agradecer-te por teres proporcionado que algo tão especial tenha acontecido no meu 2023! És uma pessoa verdadeiramente especial, que me ensina tanto (nem que seja através de recomendações literárias incríveis). E se o Jur.nal é o núcleo que é, muito se deve a ti [já deixaste a tua marca, disso não tenhas dúvidas]!

Como não poderia deixar de ser, encerro esta carta com um poema, de que gosto muito, do livro que me ofereceste aquando do concurso de escrita, e que guardo com muito carinho [Sylvia Plath e a analogia da figueira são um essencial no girl in her 20’s pack].

Um muito Feliz Natal, com tudo o que desejas! Muita alegria e saúde para ti e para os teus!

Muitos beijinhos

 

Inês

 

 

Words

Axes

After whose stroke the wood rings,

And the echoes!

Echoes traveling

Off from the center like horses.

 

The sap

Wells like tears, like the

Water striving

To re-establish its mirror

Over the rock

 

That drops and turns,

A white skull,

Eaten by weedy greens.

Years later I

Encounter them on the road—-

 

Words dry and riderless,

The indefatigable hoof-taps.

While

From the bottom of the pool, fixed stars

Govern a life.

 

Carta da Sofia para o Francisco

Querido Kikão,

Lembras-te de te dizer no traçar que te ia escrever uma carta? Fiquei muito feliz quando me calhaste no carteiro secreto da Direção, porque agora tenho a oportunidade perfeita para o fazer.

A tua madrinha anda sem muita inspiração nesta semana, não sei se é do frio, da matéria de penal, da confusão emocional interna, do acne na minha cara... Não sei, mas vou chamar as ninfas da imaginação para me ajudarem, porque mereces algo bonito.

O Saramago dizia que odiava o Natal, acho que ambos sabemos que é por causa de ser uma data que a Igreja Católica instrumentalizou para a produção de riqueza própria, fazendo uma propaganda mesquinha de ‘ajuda aos pobres’. O Capitalismo, primo da Igreja Católica, também ama o Pai Natal e aproveita para olear a sua máquina.

O Saramago odiava o Natal, por um lado, porque os praticantes do bom catolicismo (amen) decidem gritar aos céus que querem erradicar a pobreza, esquecendo-se que precisam de pobres para continuar a sua bendita doutrina. Por outro lado, penso que o seu ódio pela data é originado pelo facto do Natal trazer consigo uma carga emocional muito forte, está intrinsecamente ligado a família, instituição esta também bastante problemática, e à obrigação da realização de atos de amor em dois dias específicos do ano, porque supostamente o “salvador” nasceu.

Kiko, acho que o Natal é como a Barbie para mim, sabes? Reconheço os seus problemas, sei que a Barbie representa um conceito de mulher utópico, quer exteriormente, quer interiormente, que incentiva as mulheres a caírem no buraco de uma indústria “feminina” consumista, criada especificamente para alimentar as nossas inseguranças, mas, apesar disto tudo, seria desonesto da minha parte dizer que o meu coração não parte aos bocadinhos ao lembrar-me da quantidade de barbies (algumas destruídas completamente) que tenho numa caixa no sótão. A nostalgia é demasiada para não lhes sentir carinho. Sinto o mesmo em relação ao Natal.

Poderíamos argumentar que eu não tenho saudades da Barbie nem do Natal especificamente, mas sim da Sofia pequenina que os adorava, mas talvez as duas coisas possam ser verdade. Agora, o mundo já não me parece cheio de efeitos vermelhos e dourados, as luzes já não piscam de forma tão brilhante, já não recebo casas da Barbie no Natal, mas aprendi a gostar dos doces de Natal.

Apesar do Natal me ser mais cinzento, eu adoro qualquer oportunidade que me faça parar e pensar no quanto gosto das pessoas que partilham um existir comigo e, claro, tu és uma delas. Acho que me apercebi que te adorava depois de ler o poema que enviaste para a Edição Física do ano passado. Claro que eu gosto do Kiko profissional, que tem mil e quinhentos contactos, que faz mil coisas ao mesmo tempo, mas o meu Kiko preferido é o que me vem dar um beijinho e um abracinho todos os dias, que, quando me vê, corre logo para mim, que tem caracóis que formam um coração na testa

e que vomita para o papel sentimentos puros e complexos. Gosto muito mais da forma como amas, do que da forma como és uma máquina laboral.

Gosto muito muito de ti, espero que esta carta te chegue bem, que estejas muitooo feliz neste Natal, nem que seja só por causa dos docinhos.

Sofia.


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