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Taavi Medeiros

Corredores

É suposto pensar em algo quando ando por corredores inacabáveis? Ao ver todas as portas de sensivelmente uns 3 cm que separam um mundo privado das restantes vidas devo pensar só em mim? Hoje pensei nos pesadelos que ao dormir muitos podiam ter. porém, debrucei-me sobretudo no facto de acordarmos sempre. Quase que como se uma força natural, sempre mais forte que qualquer um, nos force a acordar antes de encararmos cenários demasiado tristes ou assustadores para o nosso cérebro sequer criar imagens acerca destes. Parece que o sentido natural do mundo é fugir de algo que não somos capazes de processar. Algo que me fascina nestas versões bizarras de sonhos é a sua evolução ao longo de uma vida. Comecei por ter pesadelos absurdos, em que o medo causado era apenas suficiente para caber na cabeça de uma criança. Atualmente um pesadelo quase que transcende paredes de osso e de paira no ar quando tento voltar a dormir.


Se olharmos para o primo mais simpático do pesadelo vemos que ele também é o parente esquecido. Um sonho é tão inútil que já não me lembro do último que tive, por outro lado, o meu último pesadelo foi tatuado na memória. Outra coisa que me faz comichão no cérebro é a dúvida de se, sabendo que as abelhas sonham ( está cientificamente comprovado) também acordam exaltadas dos seus sonhos mais infelizes? Ou será que sequer lembram-se deles ao acordar? A real comichão (está já está em carne viva de tanto coçar) recai sobre a incerteza quanto à minha suposta superioridade humana. Pensava que era especial por sonhar mas se calhar também sou só uma abelha. E se calhar até sou pior a ser uma abelha (mesmo tendo todas as faculdades humanas dadas pela evolução) do que uma própria abelha, mesmo tendo os mesmos sonhos.


Outro grande problema é não saber se eu mesmo sou um sonho de um universo morto


Vamos lá ver, se teoricamente o conceito de uma seta do tempo que corre tal como um rio sempre para o mesmo sentido é ilusório, qualquer parte do universo que se move tem uma certa probabilidade de, nesse tal de futuro, ocupar um lugar completamente aleatório. Quase que como uma gota de sangue num copo de água. Se deixarmos cair tantas quantas presentes em todas as pessoas, eventualmente algumas delas formarão formas, ou mais interessante ainda, estatisticamente, é possível que uma delas numa se espalhe pela água. A única diferença entre o universo e o copo de água é a infinidade de tempo pela frente de todas as partículas e das suas jornadas cósmicas. Outro exemplo é aquele dos macacos que conseguem escrever tudo se tiverem tempo suficiente. Neste caso, há tempo e há macacos (forças e tal, não sou de física). No fundo, se calhar sou só uma probabilidade e, como o sangue, apenas existo por poucos momentos até dissipar-me novamente.


Isto levou-me a pensar no que sou.

Um cérebro ou um corpo?

Infelizmente abri aqueles 3 cm de madeira, vesti o pijama e adormeci, só para não me lembrar nem dos sonhos ou dos pesadelos que poderei ter tido.



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