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Isabel Costa

E Eu Tremi…

Estaremos a fugir de algo que podia, no mínimo, ser bom ou, pelo menos, divertido, por estarmos acorrentados às razões morais com as quais nem nos identificamos? Agora apenas comunicamos entre olhares escondidos e, talvez demasiado, ingénuos, e ataques fugazes e picantes dirigidos pelo poder das palavras, que já nada alcançam com os nossos corpos cansados de querer. Eu não vejo os novos horizontes que tu proclamas e tu não entendes a luta que eu preconizo e essa é a maior desculpa para noites longas e efémeras a discutir pacífica e ardentemente um futuro que não está ao alcance de só duas pessoas.

Creio que os outros fingem não entender, mas, de facto, nem sei se tu próprio entendes, nem sem se queres entender, aparenta ser muito mais pragmático e adequado às nossas posturas apenas fugir de tentar e fingir não entender, continuar esta corrida desde o momento que entras até ao momento que sais e tudo fica igual, exceto, claro, a minha mente, que se confunde ainda mais com cada olhar e efervesce com cada declaração insignificante, que até me leva a acreditar em borboletas; a mim! Eu nem sei que mais escrever; todos aqueles momentos e todas aquelas entrelinhas que eu fujo de perceber para não complicar o que já é inexoravelmente complexo, por muito simples que seja. É tudo tão claro…


Ficou uma noite esquecida que nenhum de nós esqueceu, uma noite perdida e desperdiçada em que rejeitamos os desejos dos nossos corpos novos e selvagens e fugimos à tentação, andámos horas para trás e para a frente, entre conversas e pequenos beijos roubados e nunca saímos do mesmo lugar. Naquele dia, era uma cama quente, cheia de sonhos e esperanças, no seguinte, estava vazia e nela guardava todos os segredos de algo que nunca chegou a acontecer; agora é a minha eterna confidente e esconde tudo o que eu não sou capaz de dizer, aliás, esconde conversas ternurentas e elogios sublimes, esconde preocupações e dúvidas trocadas, esconde pernas a tremer de prazer e corações a bater de emoção... esconde tudo o que ficou por acabar e as mil palavras por dizer e, por fim, esconde o teu golpe final, cujo não sei se foi em tua ou minha misericórdia. Há tanto que eu não sei... na verdade, também não sei se quero realmente saber, poderá ser mais fácil continuar no purgatório, no eterno sem saber em que só temos que viver com a vergonha do que já fizemos e nada mais, viver com a constante pergunta do que poderá ser e nunca dar aquele último passo mortal, que pode até nada mudar. É como ter insónias constantes o dia inteiro, a mente deambula por todos estes pensamentos e momentos e tudo está tão difuso, exceto a vontade de conversar contigo sobre tudo e sobre nada e de continuar este nosso jogo provocador, que me enche de esperança e me rebenta ao mesmo tempo. O meu desejo incomunicado de que tu fiques mais tempo e te sentes mais perto e a minha desilusão quando és o único que não aparece ou és o primeiro a sair, ou pior ainda, quando ela chega e eu sinto que começo a desaparecer, a verdade é que nunca consigo entender, mas não pergunto a ninguém, muito menos a ti, e apenas continuo, como sempre faço, as minhas piadas vazias que me vão comendo aos pedaços... Parece-me que os teus olhos já nem brilham tanto quando olhas para ela, mas não comento com medo que seja a minha esperança a tentar iludir-me, apenas continuo… porque tu também continuas a discutir os confins do universo e o sexo dos anjos comigo e, nesses momentos, nada me parece mais simples do que essas horas infinitas de desabafos sobre os problemas sérios de que somos irremediavelmente fãs e aos quais tentamos dar resposta das maneiras mais diversas possíveis e com as piadas mais estúpidas.

Mas é tudo tão claro e ao mesmo tempo tão difuso e o teu odor a gin barato não sai da minha mente…


E há dias em que penso que se calhar nem gosto de gin tónico, mas depois sinto aquele aroma perfumado familiar e os meus lábios encontram aquele sabor intenso, porém refrescante e, de repente, sou novamente refém de algo que nunca escolhi apreciar...


E, no fundo, só sei que eu tremi…

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