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Letícia Paes

Entre portas do jardim secreto

Em vezes, me pego flutuando e acordo sem ar; meu medo é que o espírito saia do corpo, enquanto pulo em nuvens e mar. Parece-me nítido a vida, ouvindo as mesmas canções, contudo quando espio sorrateiramente, só vejo, em preto e branco, uma chuva de borrões. Creio que vivo dormindo ou morro acordada, não decidi-me ainda, entre uma apneia e outra as coisas ficam muito embaçadas. Se um dia pudesse dirigir, atuar e produzir, invés de nadar em baldes de pipoca, quadrada no sofá, talvez surgiriam mais cores, múltiplas pedras com valores, e não só, com os meus fósseis, em pedras de âmbar.

Em vezes, culpo a desassociação, em outras os fazendeiros; me afogo e transbordo na taça da imensidão, e de lá corro vazia, seca e em exaustão. Será que há campos frescos e pés molhados? Quem sabe cheiro limpo amadeirado e um ar gelado? Sou Emília mas quero ser Narizinho, sou Alice mas admiro o Chapeleiro, vivo correndo atrás do coelho e nunca há de chegar; quando uma boneca ganha autoria,como irá se comportar?


Por fim, a liberdade assemelha-se com a Maldição, gotinhas de um caldeirão, servida em meia taça, que não nutre a pança escassa. Devo comer o bolo e ganhar altura, devo voltar à casa que me parece tão maçante, devo amar os alarmes, alheia às fugacidades, devo rasgar o passado e perder a ousadia.


Riscando a lista de afazeres, o dormir e acordar torna-se fatal, o peito corre sem direção, o campo não passa de fotografias, e resta aqui, somente, Canção de Exílio a o que aqui, residia.



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