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Zulficar Silva

Entrevista ao deputado Carlos Guimarães Pinto


NOTA DO AUTOR:

Esta entrevista, baseada no tema da inflação, conta com as ideias do deputado da Assembleia da República, Carlos Guimarães Pinto, doutorado em economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto, tem como objetivo explicar à comunidade académica da Nova School of Law a problemática da inflação. 
Gostaria, ainda, de agradecer ao Doutor Carlos Guimarães Pinto pela colaboração nesta entrevista.


ENTREVISTA:


ZS: Como surgiu a atual inflação?


CGP: A inflação atual surgiu devido à pandemia do COVID-19 e da guerra na Ucrânia. No período pandémico ocorreu uma forte injeção de dinheiro na economia, uma das maiores injeções monetárias da história, no período de 2020 e 2021. Devido à pandemia, tínhamos muito dinheiro na economia e as cadeias de produção quebraram, devido às pessoas não consumirem. Com o fim da pandemia, as pessoas começaram a sair à rua e a gastar todo aquele dinheiro que acumularam durante a pandemia, havendo muito dinheiro e poucas coisas a serem produzidas.

Com isto, os preços acabam por subir, o que já se verificava antes da guerra na Ucrânia. Com a guerra da Ucrânia, ocorreu choque nos preços dos combustíveis e dos bens agrícolas, porque a oferta destes produtos diminuiu. A Rússia e a Ucrânia passaram a ter mais dificuldades em alocar a sua produção agrícola no mercado.

Esta mistura de muito dinheiro parado e uma guerra que originou a dificuldade de obtenção dos produtos agrícolas levou ao incremento da inflação que podemos verificar atualmente.


ZS: Qual é a principal diferença entre a atual inflação e a inflação dos anos 80? CGP: A diferença da inflação dos anos 80 para a atualidade é que, na época, Portugal tinha moeda própria. Portanto, a inflação era consequência das decisões que o país tomava: o país financiava muito da sua despesa pública através da injeção de moeda. No fundo, o estado imprimia dinheiro para pagar as suas despesas. Atualmente, Portugal não tem moeda própria, então a decisão não está apenas em nós. Foi o Banco Central Europeu que tomou esse tipo de decisão. Quanto ao resto, não há diferença. É a injeção monetária na economia que não tem uma capacidade produtiva à altura, o que faz com que os preços subam.


ZS: Como é que poderemos sair desta situação? É possível voltar aos preços de 2019?


CGP: Não é possível voltar aos preços de 2019, mesmo que a inflação fosse 0. Isso só aconteceria se houvesse deflação, um cenário muito improvável. É muito raro haver deflação elevada, sendo que, quando aconteceu, não ultrapassou o 1%. O que pode acontecer é uma subida a velocidade mais baixa, sendo que o objetivo dos Bancos Centrais é não ultrapassar os 2% ao ano. E para isso, não há formas fáceis. O que os Bancos Centrais têm feito é buscar todo o dinheiro que injetaram através do aumento das taxas de juro. E isto tem um efeito: as pessoas que têm prestações de casas e empréstimos ao banco são obrigadas a pagar uma prestação maior. Historicamente, a única forma de diminuir a inflação é diminuindo a taxa de juro.


ZS: Qual é a influência dos Bancos Centrais nesta situação?


CGP: Quando os bancos centrais mantiveram as taxas de juro baixas, alimentaram a potencial inflação, e fizeram mais que manter as taxas de juro. Fizeram algo que nunca tinham feito antes, o chamado quantitativismo. A compra direta de ativos, injetaram dinheiro porque eles próprios imprimiam dinheiro para comprar coisas no mercado. E os bancos centrais tiveram um papel essencial tanto na inflação dos preços dos consumidores, como ainda, muito antes disso, a inflação do preço dos ativos, como as casas. Nós falamos agora muito da inflação que chegou aos bens de consumo, mas este fenómeno já se verificava nos preços da habitação muito antes, que é para onde normalmente vão os empréstimos.


ZS: Os bancos centrais deveriam ser órgãos ligados ao estado ou totalmente independentes?


CGP: Totalmente independentes. Acho que foi a politização dos Bancos Centrais que levou a estas injeções monetárias. Se tivéssemos bancos centrais dependentes da política, tínhamos esta inflação para sempre, como acontecia nos anos 70 e 80 em Portugal.


ZS: Quais são as principais medidas dos partidos políticos para combater a inflação?


CGP: A inflação é muito difícil de combater com medidas políticas. Acho que deve ser com medidas monetárias. O banco central europeu combate a inflação bastante melhor do que qualquer partido político.


No entanto, existem várias medidas adotadas pelos partidos políticos: alguns partidos apoiam que o estado diminua o IVA para permitir que os preços não cresçam tanto, como a Iniciativa Liberal, e outros partidos têm defendido para alguns produtos específicos; outros partidos defendem apoios sociais directos, como o que o PS tem feito - já que os preços estão a subir, dá-se às pessoas algum dinheiro para que possam comprar mais coisas; com um histórico de funcionamento muito mau, temos também o controlo de preços, através da proibição do aumento dos preços, como acontece em países comunistas quando há inflação. Esta medida gera escassez, uma vez que, quando os preços são impedidos de subir, as pessoas deixam de os conseguir vender. Temos visto isso no mercado farmacêutico, em que os preços são tabelados e não podem subir sem autorização. Nos últimos tempos, como há inflação e os preços dos medicamentos subiram num mercado livre, manteve-se os preços baixos e os medicamentos não estão disponíveis. Isto é um problema maior do que o preço aumentar alguns cêntimos.



CONCLUSÃO


Em suma, esta entrevista foi realizada por um estudante de direito a um deputado da Assembleia da República, onde o principal objetivo foi clarificar o que é a inflação e como ela funciona, e, além disto, como sair da situação de inflação.

Esta entrevista foi feita com o principal intuito da comunidade académica da Nova School of Law percebesse do assunto que esta tem nas nossas vidas atualmente.

E queria agradecer novamente ao Sr. Deputado Carlos Guimarães Pinto pela sua disponibilidade.






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