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Sofia Dias

Função do Irregular e do Absurdo f(x)=x?

Eu cambaleio na corda bamba da descontinuidade, mergulho naquilo que me é núpero e solto gargalhadas enquanto nado.

Eu não fui feita para me derreter e evaporar por algo/alguém segundo a fórmula: f(x) = ax.

Eu fui feita para dançar, para andar em folias, para jogar à apanhada, para brincar, para saltar sem olhar para o chão.

“Sofia, é hoje que vamos ver o mar?”

“É sim, Inês!”

“É que estavas sempre a prometer e a marcar para outro dia, não tinha grandes esperanças de que fosse hoje!”

“É hoje, sim. Prepara o fato de banho!”

Eu fui feita para levar alguém a ir ver o mar e para depois desaparecer nas ondas e deixar que elas me levem diretamente a outro alvo da minha estima. Esta última revela-se fatalmente efémera, levando à repetição de todo o processo.

Tudo interstícios, tudo aproximações, tudo função do irregular e do absurdo: (f(x) = x?

Perfeitamente insaciada com as possibilidades de casacos que posso vestir e amar.

Talvez o que há de mais cíclico em mim, o que há de mais rotineiro seja a minha capacidade de dizer adeus, de me despedir docemente daquilo que antes recebi com um esperançoso “olá”. Nutre-se, então, um luto por algo que não chegou a ser corpóreo, mas que foi algo suficientemente intenso para o meu peito mergulhar de cabeça, bater com o queixo no fundo da piscina e afogar-se em saudade.

Sei que para existir um corte de uma sequência tem de existir sempre algo que lhe suceda. A minha continuidade encontra a sua cama na descontinuidade, ama-a e faz amor com ela vezes e vezes seguidas. Se tal não acontecesse, não existiria nenhuma das duas no meu universo metafísico.

Só existiria

Branco.

Silêncio.

Vazio.

Se não existir algo para substituir o que lhe antecedeu; se a minha mente já não conseguir inventar mais; se eu não me puder multiplicar e eliminar o que anteriormente fui; se já não conseguir saborear este espaço entre eu e mim mesma; se a minha alma já não me procurar; se eu já não andar a monte - o meu cérebro deixará de cheirar a laranjas e de ter uma música.

Ficará sem cheiro.

O silêncio permanente vai fazer com que pare de estar tonta com tantas voltas dadas no carrossel da metafísica.

Vai matar as insónias e fazer com que eu, finalmente, consiga adormecer sobre mim mesma.


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