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Writer's pictureJurpontonal Nova Law Lisboa

Lembro-me que... versão Gala Lex


Maria Leonor Baptista

Lembro-me que estava a pôr os brincos e a minha amiga estava a esticar o cabelo. Lembro-me do nervosismo no fundo da barriga, mas depois éramos só nós as 3 a rir num carro e a ir ter com os nossos amigos. Os amigos fáceis, que não era preciso pedir conselhos, que eles próprios vinham ter connosco, as "irmãs" mais velhas e as madrinhas. Os vestidos e a música inebriante. Lembro-me que vi copos na mão e alguns a cair no chão. Lembro-me que sonhei que a gala continuava já depois da gala terminar. Lembro-me que…



António Subtil

Lembro-me que estava tudo muito turvo, a não ser alguns amigos e amores, a que chamamos de família. Sofia, minha irmã mais culta e mais lerda, chamando-me para receber o prémio que ela ganhou com ela, dedicando-me. Tola. Fofa. Beatriz, minha nova irmã, dizendo-me que não me roubaria a minha madrinha. Tola. Fofa. A Mello é demasiado especial para só ser minha. Maria, minha filha, na casa de banho, preocupando-se. Tola. Fofa. Não te preocupes, minha filha, enquanto eu cá estiver, tudo farei por ti, nenhum mal te tocará.

Eu não acredito na Família. Não fui educado para tal. E ainda assim, este sítio, esta praxe, deu-me-vos. Sofia, Beatriz, Mello, Maria, família. Amo-vos.



Sofia Dias


Lembro-me da mala cair ao chão, porque a estraguei e da Isabel a arranjar, lembro-me dos 3 cigarros (ou se calhar foram 4, 5? Não, 5 não podem ter sido), lembro-me dos copos de vinho no início, lembro-me dos copos de água com a Sofia no fim, lembro-me das flores dela, lembro-me da câmara da Bea, lembro-me do elástico da Mello, lembro-me do casaco do António.


Acho que é mais fácil recordar os momentos quando estávamos a segurar nalguma coisa.


Por exemplo, lembro-me de falar com o Rafa e de ele ter o meu prémio na mão enquanto eu me calçava, porque tinha perdido os sapatos (andei a correr atrás dele na relva, não sei por que razão e fiquei sem eles). Já calçada, ele disse-me: “Então, não queres o teu prémio?”. Acho que peguei no lex e o encostei contra ele e disse algo ao longo destas linhas: “Sabes, isto devia ser teu. E eu sei que isto não interessa para nada, estes prémios não significam nada materialmente, não dizem nada sobre a tua inteligência. Mas, merecias mais que eu. O problema é que és totó por não exibires a tua intelectualidade e a esconderes. Ignora-la até (sinto que não fiz a pronominalização correta na altura). Por isso, fica com ele, não o quero.”


Este foi o último momento em que me lembro de ter aquilo na mão, nunca mais vi o prémio desde aí.



Ved


Lembro-me que estava a jantar com os meus amigos e, a dada altura, acabei deitado num sofá aleatoriamente.


Lembro-me que tive uma conversa fantástica com alguém, mas não sei quem, nem faço ideia do que falamos.



Rafael Guerra


Lembro-me que estávamos todos com frio no início. Lembro-me que quando descemos do jantar todos o perdemos algures. Lembro-me das nódoas de vinho em todas as calças, casacos, camisas e vestidos; e lembro-me dos sorrisos urdidos em embriaguez e descomprometimento.


Lembro-me de a Laura estar deslumbrante, e de o ficar tanto mais quanto mais tempo olhava para ela. Lembro-me de gritar quando a Gi e a Sofia ganharam os prémios. Lembro-me de o discurso do Professor Filipe Brito Bastos envolver troça do monopólio que o Professor Miguel Moura tem sobre os prémios Lex. Lembro-me do amor. O álcool faz-nos disso. Algum sítio cá dentro haverá para onde isso tudo vai; espero nunca perdê-lo.



Inês Fonseca


Lembro-me que abracei mais pessoas naquela noite do que na minha vida inteira.


Lembro-me de ter julgado o tamanho das porções de comida, sem saber que seria essa mesma quantidade que ia almofadar a queda do álcool no meu estômago.


Lembro-me de ter chegado ao final da gala e ainda existirem as corajosas, de saltos, com os pés arruinados. plenas e belas.


Lembro-me que os sofás exteriores foram ponto de convívio. risos, mimos, conversas, bebidas (e outras coisas) partilhadas.



Mello


Lembro-me que a Isabel entrou no meu carro no meio do caos, e fui deixá-la a casa. Numa viagem de 10 minutos, não falamos de nada, e falamos de tudo. Chamei-lhe filha. Chamou-me mãe. Não significou nada. Nada, para além de que temos carinho uma pela outra.


Lembro-me que a Sofia Dias tinha o vestido digno de uma pintura. Como a primavera, como os lagos da minha terra. E ele caía de vez em quando. Tentei ajeita-lo. Ela disse que estava mal. Pouco depois, senta-se ao pé de mim e pede que encontre o botão certo para o prender. Não havia botão. Tirei do meu ultimo elástico de cabelo e amarrei o vestido. Ela beijou-me a face. Disse que tinha muito amor por ela.


Lembro-me que toquei no braço da Beatriz Jesus ao passar por ela. Ela chamou por mim várias vezes. Virei-me, e ela pegou-me na mão. Encostou-me perto da parede, e garantiu-me que não estava bêbada. Pediu-me em madrinha. Chamou-me gentil. E levei as mãos à cara — em choque. em felicidade. em incredibilidade. Acenei que sim. Acenei que sim. Abraçamo-nos. Ela tombou o meu copo de gin com o pé. Gritei de felicidade.


Lembro-me que não queria beber durante o dia e tinha frio. Estava ansiosa. Era tudo demasiado. A Margarida Mouquinho pediu-me para lhe fazer companhia na casa de banho. Ficamos juntos um longo tempo, longe de todos, longe do barulho. Só nós. Ela no vestido vermelho de princesa, e eu com o meu véu negro. Senti-me segura. Senti-me feliz.


Lembro-me que a Sofia Paulino tinha perdido a flor da pulseira dela. Rosa e branca. Ela estava triste por isso. Franziu as sobrancelhas e fez uma cara de choro na brincadeira. Voltei para a nossa mesa e olhei para o chão — lá estava ela. Atravessei a sala para a entregar. Ela refez a cada de choro, desta vez por emoção real. Agradeceu-me — pela flor, e por ter me conhecido. Disse-lhe que tê-la na minha vida era uma sorte. Abraçamos-nos.





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