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Lembro-me que... Finalistas 2020-2024

Ana Sofia Fernandes

Lembro-me de chegar à faculdade demasiado animada pelo desconhecido. Fiquei ali, entre a residência e a entrada da faculdade sem saber para onde devia ir, e com quem devia falar. Lembro-me que comecei a falar com uma pessoa, (ou com várias), na expectativa que estivessem tão perdidas quanto eu.


Lembro-me de me estar naquela aula fantasma, não acreditando que era real, e rindo-me de quem acreditava sê-lo. Lembro-me do pânico instaurado naquele anfiteatro, mas também me lembro do alívio quando os trajados entraram. Lembro-me de olhar para eles, e pensar o quão sábios e quão importantes eles deviam ser, e lembro-me de me sentir um pequeno grão de areia, no meio de tanta gente.


Lembro-me de não gostar da praxe, e pensar para mim mesma “como é que há gente que gosta disto?!”. Lembro-me de ter sentido saudades de casa nesse dia, e desejar que esse sentimento não fosse contínuo, pois não saberia lidar com ele.


Lembro-me de, no dia seguinte, subir parte da Travessa Estevão Pinto, e falar para a Rita. Ainda hoje questiono se foi a minha melhor abordagem com ela. Separámo-nos. Não estávamos na mesma turma...


Lembro-me que, num dos dias dessa semana (que, infelizmente, já não sei precisar), fomos divididos por salas. Sentei-me ao lado de uma menina loira. Pareceu-me simpática. Perguntei-lhe o nome, ao qual me respondeu “Sou a Bruna!”. Quase não lhe perguntei mais nada, ela fez a conversa toda por mim. Senti que, afinal, começar uma conversa era mais fácil do que parecia.


Lembro-me de voltar a casa, nessa mesma semana, e lembro-me dos sorrisos no rosto dos meus pais, a cada episódio que contei sobre a faculdade nesse fim-de-semana.

Lembro-me que esta foi a minha primeira semana, que antecedeu todas as semanas destes quatro anos.


Inês Brazão

Lembro-me de Direito não ter sido a minha primeira opção. Às vezes penso nas casualidades da vida e das repercussões a grande escala que pequenas escolhas podem ter. Assim, após um mês noutro lugar, chego à Nova Direito já na 2ª fase.


Lembro-me de a aula ser Direito Constitucional no anfiteatro-cave da reitoria, portanto, vários grupos de alunos do 1º ano concentravam-se à entrada desta. A minha timidez deixou-me paralisada “com quem vou falar agora?”. Para meu alívio e surpresa vi uma menina de ar doce a caminhar na minha direção, apresentou-se e apresentou-me aos seus amigos. Posso dizer que nunca mais os larguei. Será coincidência, ou serão as repercussões a grande escala de pequenas decisões? Lembro-me de nesse primeiro dia alguém ter sugerido irmos almoçar ao El Corte Inglês. Lá fomos, e no regresso à faculdade apanhámos uma molha descomunal. A chuva deve ter sido a cola que uniu este grupo.


Lembro-me das fatídicas aulas online ao fim da tarde e início de noite, e do começo de semestre confinados. Lembro-me de depois, aos poucos, descobrir o resto das caras dos meus colegas.


Lembro-me do moot court. Foi nessa altura, com muitas questões existenciais, que descobri que, se calhar, até tinha jeito para a coisa.


Lembro-me de ter muitas dúvidas, de às vezes sentir que tinha um pé mais fora que dentro, mas mesmo assim escolher continuar. E, olhando pelo retrovisor, sinto-me feliz que assim tenha sido – valeu e continua a valer a pena.


Lembro-me de entrar para o Jur.nal. Senti que havia encontrado um lugar de conforto no meio do universo jurídico que nos absorve todos os dias. Sorte a minha estarem cá e me permitirem partilhar o que vai aqui dentro.


Lembro-me do caminho para o metro, percorrer a Rua da Mesquita e a Avenida Ressano Garcia em passo acelerado, e do resto do percurso até ao Campo Grande, sempre na melhor companhia. Lembro-me de muitas aulas, nem sempre do conteúdo das mesmas, mas de gostar de observar que estávamos ali para o mesmo, quase 1 centena de almas (muitas vezes bem menos) com sonhos e aspirações. Lembro-me de aprender muito, e de ter muito sono às vezes também (não fosse a vida feita de equilíbrios).


Lembro-me das gargalhadas e das lágrimas que fui depositando em vários recantos do nosso Campus de Campolide. Mas, mais importante, lembro-me das pessoas que me estenderam a mão e a agarram com toda a força em todos os momentos. O meu agradecimento especial às 3 meninas que tornaram estes 4 anos uma verdadeira viagem cósmica – Inês, Leonor e Maria. Guardo-vos no lado esquerdo do meu peito.


Lembro-me que este não é verdadeiramente o fim para mim, apenas uma despedida das pessoas que começaram esta caminhada comigo no longínquo ano de 2020. Que a sorte vos sorria sempre e os vossos sonhos se cumpram!



João Maria Dias

Lembro-me que o Pedro Caetano Nunes achou que eu e a Matilde Ribeiro namorávamos.


Lembro-me que o Gonçalo Ferreira cagou a casa de banho da dux no segundo dia de praxe.


Lembro-me que o Tomás Correia disse, de microfone ligado, que “microeconomia é fácil: é só fazer gráficos e o caralho”, perante o ar atónito de João Amador.


Lembro-me que o Gonçalo regurgitou violentamente à porta da Rovisco Pais, n.º 4, depois de um Urban muito louco e produtivo.


Lembro-me da Inês Lemos a fazer malandragem na festa de Halloween de 2021.


Lembro-me da estala pós-All Saints da nossa 1.ª saída como doutores, em outubro de 2021.


Lembro-me que os rapazes foram aplaudidos de pé, na nossa primeira Lex, por toda a sala, enquanto tiravam uma foto com os profs. Miguel Moura e Vítor Neves.


Lembro-me das fatídicas consequências do último Rally Tascas no Campus de Campolide.


Lembro-me que o Afonso rasgou a mão toda a tentar entrar no Monsanto’s Open Air depois do fecho, porque se tinha esquecido da chave de casa.


Lembro-me da Constança Mota num estado lastimável pós-Rialva, quando se faziam afters no relvado.


Lembro-me do hattrick do Tomás Correia no nosso segundo jaloiro.



Luís Calado

Lembro-me do fatídico dia de 30 de setembro quando embarquei no voo TP1690 pelas 06:40 da manhã, de refletir, de me correrem lágrimas pelo rosto abaixo porque como diria o Jorge Palma e o Sérgio Godinho, “[Era] o primeiro dia do resto da minha vida”. E muito mudou, de facto.


Lembro-me como se fosse hoje, mas com o amadurecimento da Vida, de ser um rapaz de 19 anos a chegar a Lisboa e que teria de aceitá-la como casa para, pelo menos, os próximos 4 anos.


Lembro-me do sentimento de coração apertado, de saber e reconhecer a escolha que estava a fazer e de sentir a sensação de que estava a jogar um jogo de póquer em que tinha feito All-In. Dir-me-ão, caros leitores, que o resultado final desta jogada foi proveitoso. Eu vos respondo, foi atribulado, conturbado, penoso, mas também foi satisfatório, recompensador e produtivo.


Estes 4 anos foram decisivamente marcantes pelo bom e pelo mau, mas há uma coisa a reter, as amizades que daqui levo são, com elevada certeza para a vida, os ensinamentos que Lisboa me trouxa são eternos e, a certeza de que fui e sou capaz também é para a vida.


Lembro-me que… a vida nem sempre foi fácil e, sendo um madeirense ferrenho, a vida longe da minha terra também foi com muitas saudades de casa. Saudades da comida, dos amigos, do ar, do mar e, como diria a Elisa, muito melhor que eu, “Eu nasci do Sol/Longe dos Himalaias/Cresci girassol/Mesmo junto à praia/Se houvesse maneira/De chegar aí/Eu correria/Como nunca corri/Até ti”, minha Madeira.


Lembro-me que ontem era uma criança e hoje sou um homem, um homem crescido e cheio de saudades da Vida, da Vida como um todo cheio de experiências fantásticas como as que eu vivi até aqui.


Obrigado, Lisboa, obrigado TAP e obrigado a Todos aqueles que me ajudaram até aqui. De coração cheio.



Luisa Ferreira

Lembro-me que a Ana Sofia me mandou mensagem na Uniarea antes de tudo começar, lembro-me que a Joana queria ser PJ, que a Leonor estava ansiosa mas entusiasmada pela sua nova vida e que a primeira conversa que tive com a Patrícia foi sobre descoloração de cabelo.


Lembro-me de todos os momentos que passei com estas meninas, que a Ana Sofia fez Ponte-de-Sor - Borba para ir aos meus anos durante as férias do Carnaval, de todas as videochamadas que fiz com a Leonor e a Patrícia em que falámos de tudo e mais alguma coisa, de todas as vezes em que a Joana me acompanhou para o metro e de todos os momentos que elas me deram na cabeça por fumar.


Lembro-me que fiz uma videochamada com a Raquel antes de ela entrar, e de ficar tão incrivelmente feliz quando isso aconteceu, porque queria mesmo ser amiga dela. A minha Raquel acabou por ser uma das melhores pessoas a entrar na minha vida, e que feliz que fiquei com a nossa amizade e os nossos mil e um planos para beber café que nunca se tornaram realidade (temos mesmo de ir, talvez um dia).


Daqui a muitos anos, quando for velhinha, espero olhar para trás e sorrir ao pensar nestas meninas, e depois ligar-lhes para nos encontrarmos e ficarmos a fofocar durante horas, como é a nossa tradição.



Madalena Biscaia

Lembro-me que, estranhamente, não estava nada nervosa no primeiro dia de aulas naquela manhã de outubro de 2020. Cheguei bem cedo, acho que eram 7 da manhã, e fiquei a ver o nascer do dia neste campus que já se estava a transformar em casa sem eu dar por isso. Eu sabia que estava onde devia estar, e essa confirmação chegou umas horas depois. 


Lembro-me da fila para subir para o CAN, de me sentir absolutamente perdida e de não fazer ideia para onde nos estavam a levar. Lembro-me do terror que senti na aula fantasma, com notas tiradas num frenesim assustado que ainda hoje guardo com carinho no meu telemóvel. Mas aquele auditório vai ficar sempre marcado de outra forma para mim, porque foi lá que a conheci: a minha parceira nesta aventura que têm sido os últimos anos. Foi embebida pelo ligeiro terror que ainda sentia da aula fantasma que fiz conversa com a menina de cabelo castanho sentada à minha frente enquanto esperávamos para sair do auditório. Quis o sorteio que ela ficasse no meu grupo de praxe, e o resto é história. Lembro-me acima de tudo de lhe pedir uma selfie, porque “acho que vamos ser amigas”. Nunca o meu instinto soube tão bem o que estava a fazer. 


Com ela ao meu lado, esta faculdade rapidamente se transformou numa segunda casa. O relvado, os corredores, o bar e todos os restantes cantos desta nossa escola da lei foram-se tornando palco de conversas, risos, partilhas e o ocasional mas não inexistente desespero. Foi com ela que consolidei os planos pós-exame, as fugas às aulas de DC dadas pela Helena, a forma manifestamente errada de beber vinho tinto e os benefícios da água da torneira. E foi com ela que encontrei o terceiro membro da minha aventura dentro (e fora) destas quatro paredes. 


De facto, não posso dizer que me lembro (sorry Madalena), mas algures nestes dias, que só podem ser qualificados como incrivelmente felizes, apareceu ela: a loira que foi para a morena que eu era, o impulso que precisávamos, a mulher que me mostrou ainda melhor o que é amor. E nascemos nós, as três da Ryanair e do vinho e de tantas outras palavras que não significam nada para ninguém a não ser para nós. 


Lembro-me de tantos momentos em que sorri até me doer a cara no relvado deste campus, nos bancos de madeira do CAN, nas filas dos auditórios, na cantina cheia, nos sofás do bar. Não posso dizer que os últimos quatro anos tenham sido só momentos felizes, mas posso dizer em boa consciência que nos momentos difíceis nunca estive sozinha a chorar uma nota. Nunca tive de perceber por mim conceitos complicados. Nunca me atirei de cabeça sem as mãos delas nas minhas. 


Chegando ao fim deste percurso lembro-me de muitas coisas (tantas outras já esqueci), embebidas essas memórias num sentimento sem nome que pinta estes últimos anos da minha vida - felicidade, contentamento, paz, pertença. Mas elas as duas são aquilo que nunca esquecerei. Elas são aquilo que vou sempre lembrar quando pensar no quão feliz fui nesta casa. No primeiro dia encontrei uma alma gémea. Obrigada NOVA SOL por teres sido a tela de fundo dos momentos mais bonitos da minha vida, por me teres permitido encontrar as minhas pessoas, por me teres visto crescer. Nunca te vou esquecer, e nunca deixarei de sorrir quando disser o teu nome.



Sara Mendes

Lembro-me da primeira vez que entrei neste campus, cheia de expectativas e nervosismo. Cada corredor, cada sala de aula, cada pessoa - uma novidade. Lembro-me das conversas nos intervalos, dos risos partilhados e das amizades que se formaram. Lembro-me da primeira vez que vi os sorrisos dos meus amigos, após imaginar meses a fio como seriam por debaixo da máscara.


Lembro-me também dos desafios, das noites sem dormir, das dúvidas, das lágrimas derramadas em momentos de frustração. Impossível seria não me lembrar de quem me agarrou nesses momentos - amigos, afilhados, padrinhos e o Guilherme.


E no meio de 1302 dias, o que fica foram os momentos simples, os pequenos instantes que, de alguma forma, se tornaram preciosos pela sua simplicidade: as tardes passadas no relvado a apanhar sol, os abraços dados quando passamos por alguém, cada momento musical nos súcleos, cada momento de stress na biblioteca, cada bocejo na sala de aula, cada “FRA”.


Lembro-me e lembrar-me-ei sempre que daqui levarei muito mais que um diploma, mas todos os segundos que cá passei. 






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