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Hugo Mendes

masculinidade tóxica.


Vivemos num mundo em que, desde crianças, somos bombardeados com expressões, atitudes e reações que nos moldam de forma a sermos tudo o que é esperado de nós. Seja pelo ideal de homem que a sociedade tem, seja pela única noção de masculinidade que (ambos!) os nossos progenitores têm e colocam em prática na relação entre eles e para connosco.


Enquanto homem com 19 anos, gostaria de dizer que nunca tive medo de me expressar e de me mostrar vulnerável, mas esse não é o caso. Sempre notei que os rapazes à minha volta, tal como eu numa determinada fase, evitavam demonstrar as suas emoções com medo de serem percecionados como fracos, vivendo numa narrativa que os prendia - e prende - a normas culturais tóxicas. E a partir do momento em que um quebra essas normas, é automaticamente marginalizado e/ou, em muitos casos, alvo de bullying. São frases como: “Os rapazes não choram”, “A ginástica e a dança são para meninas”, “No homo”, “O meu filho é um garanhão”, “Quem veste as calças?” e “Não sejas maricas!” que reforçam a clausura e a espessura da parede que divide o homem da sua realidade emocional, criando um teto de vidro gerador de consequências pejorativas.


Na mesma nota, o impacto destas expressões e de tantas outras é corrosivo. O efeito é prejudicial para a saúde mental dos homens, que, em todos os aspetos que a influencia, deve ser priorizada. O estudo “Masculinity and suicidal thinking”, realizado por uma equipa de investigadores da Universidade de Melbourne, em 2016, concluiu que os homens que se identificam com um elemento particular da masculinidade dominante – ser autossuficiente – poderiam estar em risco de terem pensamentos suicidas. Atualmente, os homens vivem menos devido a alguns fatores, incluindo a supressão das suas emoções, o que se pode traduzir no facto de as taxas de suicídio em Portugal evidenciarem uma discrepância ensurdecedora entre homens e mulheres, 15,4% face a 4,4%, respetivamente, em 2019.


Mas, afinal, o que é ser homem? O que é a masculinidade e a virilidade? Estes conceitos são construções sociais, com uma alta carga subjetiva, havendo inúmeras noções de masculinidade e virilidade. Contudo, uma coisa é certa: antes de sermos homens, somos pessoas, pessoas com emoções, inseguranças e questões. Portanto, em vez de agirmos em torno de um ideal inalcançável pela sua inquestionável irrealidade, não devíamos ensinar-nos mutuamente a sermos autênticos e a procurar ajuda sempre que precisarmos?


As emoções devem ser abraçadas, celebradas e, sobretudo, abordadas. É urgente assumir esta realidade, desconstruí-la e tratá-la como deve ser tratada. É urgente sermos corajosos o suficiente para não termos medo de sermos vulneráveis.


Larguemos o guião. Sejamos humanos!



(na imagem, está presente o cantor Tiago Iorc, no vídeo da sua música “Masculinidade”, que, desde já, recomendo, e que serviu de inspiração para a construção deste texto).







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