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Inês Costa Graça

Nada disto é assim


Escritas no pergaminho do tempo

Estão as marcas de mil sonhos,

De mil canções trazidas pelo vento

De tantos gritos abafados

Por paredes de cimento.


Estão desenhadas na tela do desalento

As pegadas inconformáveis com o destino severo,

Que procura privá-las do ímpeto violento

Que habita o seu coração sincero.


Largos são os passos

Levados pelos pés que caminham

Guiados pela crença de que estarão sempre a dois passos

Do desfecho que há tanto imaginam.


E o solo chora baixinho

Cada vez que pegadas errantes

Enrugam o seu rosto cansado

De tantos passos dados em falso

Em busca do seu sentido.


Procuro o teu rasto, ó liberdade

Nos trilhos do meu caminho.

Procuro por onde fugir deste lugar vazio,

Que conheço justamente como as linhas

Que cruzam as palmas destas mãos.


Pra onde foste? E o que levaste contigo…


Sinto a terra

Por baixo dos meus pés.

Imagino para lá do muro que nos cerca,

A ponte que um dia nos há de unir

Quando será que nos deixam ir?


Palavras.

Que palavras trarão de volta

O meu corpo e alma vagabundos

Sem porto onde atracar?


Que corpos e que almas

Trarão de volta

As palavras que me foram roubadas

E trocadas por mentiras

Que não me deixam descansar…


Parecer é tão mais fácil que ser

E, parecendo que não,

Há muito que ruímos imbuídos no engodo,

Desta vida em modo simulação.


Onde parece que decidimos,

Que sonhamos e fazemos acontecer

Que alcançámos naquele dia de abril

Algo que jamais iremos perder.


Onde parece que sabemos,

Que acedemos à pura verdade do que existe

Que o mundo não é assim tão triste

Que queremos e podemos.


Nada disto é assim


Mas não me privo de nada

E vou guardando mais um sonho um desejo,

Neste mar sobejo

Daquilo que quero e de quem sou.


Traço linhas esquivas

Sintonizadas com o tempo

Serpenteando ao ritmo da pulsação

Fluindo no momento.


Venha a falsa liberdade,

Venha o ocultar da verdade.

Venha a alegre subordinação, ou

Levem-nos a vontade


Nada disso importa


Pois quem conseguir decifrar

Os carateres desenhados

No livro do meu cauteloso palpitar

Saberá sempre por que direção

Este (livre) coração há de andar.




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