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Carolina Correia

NADAR CONTRA A MARÉ

Há dias, naquilo que pensei que seria apenas uma aula como tantas outras, falaram-me da “luta contra a corrente”. Disseram-me que se temos um sonho ou uma missão, especialmente enquanto juristas atentos aos nossos surroundings, teremos muitas vezes de lutar contra a corrente (ou como eu tomei a liberdade de “traduzir”: de nadar contra a maré); com tudo o que isso possa acarretar para nós (“dói para caraças”, creio que foi assim)… 


A decisão de entrar num barco, pegar num remo (às vezes tem mesmo de ser num pedaço de madeira improvisado) e começar a remar contra a maré que nos empurra na direção oposta, nunca é fácil, nem tão-pouco poderia ser. Fácil é nadarmos a favor da maré, e ainda mais fácil é deitarmo-nos numa bóia e deixarmo-nos ser levados pela corrente (mesmo que de vez em quando vamos barafustando sobre qualquer coisinha, porque logo voltamos a adormecer em cima da bóia de novo). E ficar deitado na bóia é tão fácil… não há crítica nem chatice que nos chegue, não há angústias (as que há são meramente passageiras), não é sequer preciso um esforço minimamente ativo para nadar. O problema é que às vezes estamos a flutuar há tanto tempo, deitados naquela boia que vai a favor da corrente, que ela rebenta. Um dia a bóia rebenta, e nós já nos esquecemos de como nadar. Afogamo-nos. 


Pois é, se calhar é importante aprendermos a nadar contra a maré… Porque mesmo se um dia o mar ficar demasiado agitado, nós saberemos que temos a força e a coragem de continuar a nadar, apesar de todo o esforço. E, mais importante que isso no mundo de hoje, ficamos imunes àqueles que tentam ir soprando para nos desviar do nosso caminho; porque uma bóia é fácil de desviar com uns quantos sopros, mas alguém que vai a nadar sozinho contra a maré, dificilmente é desviado por um sopro. 


Num apelo mais pessoal: tenham mais empatia, tenham mais respeito, tenham mais seriedade. Eu sei que é fácil nadar a favor da maré, sei que é ainda mais fácil ficar deitado em cima da bóia, sei até que não é assim tão difícil ser um dos sopros que vai empurrando os que estão na bóia para onde queremos… 


Nós estamos TODOS sempre a tempo de aprender… Mas temos primeiramente de ter vontade de o fazer, e temos de ser sérios e empáticos nesse processo. 

O meu desejo mais sincero é que, num mundo de cada vez mais desinformação e sensacionalismo, possamos ser sempre (especialmente nós, estudantes de Direito), aqueles que lutam contra essa corrente, sem medos e mesmo quando nos seja custoso a nível pessoal (porque a mudança custa sempre, e se não custar há algo que estamos a fazer mal)… 


Mudar o mundo está nas (não tão) pequenas coisas, naquelas que são impulsionadas pelos nossos princípios morais e pelo nosso dever de ação, pois acreditar na possibilidade de um mundo melhor é estar sempre na primeira linha, pronto a lutar com todas as nossas forças por aquilo que sabemos estar correto. 


Eu cá estarei sempre disposta a ir tentando mudar o mundo aos poucos, mesmo quando ele ainda não estiver disposto a ser mudado. Não só porque tenho de manter a esperança que um dia os outros também estarão abertos a essa mudança, mas principalmente porque sei que desta forma terei sempre a certeza de ter feito o que podia por aquilo em que acredito, e o que os meus valores ditaram. Mesmo (especialmente) quando isso signifique ter de nadar contra a maré…


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