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Rita Esteves

O esquecimento de uma Democracia



Cravos ao peito,

Espingardas na mão

Lá iam os soldados,

Preparando a revolução.


São palavras semelhantes às presentes nestes versos que escrevo que nos surgem na memória quando festejamos uma vez mais o 25 de abril. Data marcante, além de histórica, pois claro, mas parece que o seu significado esmorece no coração do povo português. Todos os anos, comuns ou bissextos, dia útil ou fim de semana, festejamos esta data com grande fervor nas ruas. Aclamamos o fim de uma ditadura, o fim de um regime que causou sofrimento a milhares (até milhões), isolou Portugal do mundo e do desenvolvimento, desconectou-o do seu verdadeiro ser. Celebramos tudo isto (e muito mais) no dia de hoje.


Ainda assim, por muito que seja uma data ilustre, não podemos deixar passar de soslaio a hipocrisia que ela faz sobressair em quase metade da população portuguesa (42%, para ser mais exata). Imensos são capazes de lançar fogo de artificio aos céus para aplaudir uma revolução que aconteceu há 48 anos, mas parecem incapacitados de sair das suas confortáveis e acolhedoras casas uma vez de quatro em quatro anos para desempenhar um dever cívico.


A situação em que o povo lusitano se encontrava há pouco menos de meio século atrás não é inconceptível na atualidade. Não basta cantar "Grândola Vila Morena" ou recordar Salazar e Marcelo Caetano como os líderes do sofrimento passado. Não basta agradecer o fim da PIDE, da Censura, ou a queda do Tarrafal. Não basta rezar a pés juntos para que aqueles tempos escurecidos não obstruam uma vez mais o futuro da nossa comunidade. Não basta agradecer o regresso da democracia desfilando com cravos nas mãos pela Baixa de Lisboa. É preciso fazê-la perpetuar-se no tempo, manter os seus alicerces bem firmes para impedir que aquele ciclo da história se repita uma vez mais.


Este simples texto não passa de um apelo à consciência dos leitores, uma pequena chama de esperança de que, num próximo momento eleitoral, tanto a música do José Afonso como a flor escarlate surjam no espírito de cada um dos portugueses, que causem uma verdadeira revolução interior, despertem um desejo pessoal de defender a nossa herança mais querida, o supremo poder que possuímos enquanto povo de Portugal - a nossa Democracia.

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