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Paula Azevedo

O gume da faca

Menino

Quando chegar a hora

De usares a faca

Que trazes no bolso

Não te vou culpar

Afinal

Já nasceste entre sangue

Rodeado de gente dura

Com facas e armas

Num bairro de maldade

De droga e terror

Vives da rua e do grupo

Aprendeste a não sonhar

Escondes-te nas trevas

Da noite e do dia

Passas entre as balas

Saltas sobre os mortos

Já não choras a solidão

Trazes sempre contigo

Os olhos no gume de uma faca

Rápida e impiedosa

Ávida de sangue e vingança

Mas ainda te tremem as mãos

E ainda vertem lágrimas

Os teus olhos de criança



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