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Beatriz Franca

Oh, how I love being a woman

“O sexismo não existe.”


“As mulheres já são tratadas com igualdade.”


“Já não se podem queixar, já têm a igualdade que queriam.”


Tudo frases que ouvi ultimamente e que vêm acrescentar à conclusão que eu já tinha chegado há bastante tempo: ainda temos um caminho bastante grande para percorrer.

O maior exemplo disto, ultimamente, foram os 81.o Globos de Ouro que se passaram na segunda-feira. Gostava de dizer que fiquei surpreendida com os infelizes comentários feitos sobre não só o maior filme de 2023 como sobre uma das mulheres mais bem sucedidas do mundo, mas não fiquei. Se esta situação me despertou uma onda de emoções, que quase não conseguem ser descritas? Sim, porque ingenuamente pensei que estas mulheres, estas mulheres brilhantes, com tanto sucesso, que deram tanto a tanta gente, estivessem de certa maneira “isentas” deste tipo de reflexões, mas, claro que não estão.


A Margot Robbie que, não só foi magnífica no papel de Barbie, como também produziu o filme, teve o seu trabalho equiparado a uma história sobre uma “boneca de plástico com mamas grandes”, descurando completamente toda a mensagem de um filme que tocou milhões de pessoas por todo o mundo. Este filme, quer gostem dele ou não, retrata, com mestria, a luta e os obstáculos que afetam inúmeras mulheres diariamente. Este filme levou milhões de pessoas às salas de cinema, vestidas de rosa, para celebrar a feminidade e tudo o que é bom em ser mulher, sem qualquer vergonha ou timidez. Tudo para ser reduzido de uma maneira nojenta e sexista a uma piada e, ainda, comparado ao “Oppenheimer” de Christopher Nolan, porque esse é que é um filme a sério “baseado num livro de 721 páginas, vencedor do Prémio Pulitzer”. Não me interpretem mal, não quero de todo rebaixar “Oppenheimer” ou comparar os dois filmes, porque honestamente não vejo qualquer relevância em fazê-lo, mas enfurece-se como um filme que passa uma mensagem tão grande sobre o feminismo, que tem um elenco cheio que mulheres bem sucedidas, que foi dirigido por uma mulher (amo-te Greta Gerwig), tenha sido vítima (sim, vítima) de uma comparação tão maldosa e de uma piada tão mal concebida. E sim, sei que muitos de vocês provavelmente estão a pensar “foi só uma piada, que exagero” ou “não tens que levar tudo tão a sério, é só humor”, mas a verdade é que é sempre “só uma piada” e é sempre “só humor” e honestamente estou farta. Eu e diversas outras pessoas que já demonstraram o seu desagrado com esta situação. É triste que num dos espetáculos de prémios mais prestigiados de sempre algo como isto ainda seja aceite. A única coisa que consigo pensar é por quantas pessoas é que uma piada daquelas passou sem nenhuma levantar qualquer tipo de questão, e isso só me entristece mais.


Passemos agora à piada feita sobre a Taylor Swift (sim a Taylor Swift), outra anedota inofensiva que conseguiu, mais uma vez, falhar no seu objetivo de fazer alguém rir. A verdade é que o que mais me irritou não foi a piada em si, mas sim a maneira como as pessoas estão a responder à reação da Taylor a algo dito sobre ela, da qual ela tem todo o

direito a demonstrar o seu desgosto. Para quem não sabe, há um clipe dos Globos de Ouro na qual se vê a mesma a beber do seu copo logo após a piada ter sido feita, não demonstrando qualquer tipo de riso. Para mim, isto foi uma reação genuína de alguém que não gostou de uma piada feita à sua custa, mas o que tenho ouvido é que ela “não tinha necessidade de ter reagido assim” e foi “extremamente rude”. Honestamente, eu não sei se rir se chorar com uma situação destas porque, nos “Academy Awards” do ano passado o Will Smith levantou-se e deu um estalo no apresentador por não gostar de uma piada, mas sim, a Taylor “exagerou” na sua reação. Outra coisa que eu tenho que apontar, que novamente só demonstra o quão hilária e infeliz é esta situação, é a maneira como o Ryan Gosling está a ser aplaudido por ter tido uma reação semelhante à da Taylor, enquanto esta está a ser extremamente criticada. Nas palavras eternas da Taylor Swift “a man can react, a woman can only overreact”.


Pessoalmente, podia estar a escrever sobre isto durante horas mas só queria que o meu descontentamento ficasse refletido algures. Entristece-me que tenhamos começado 2024 desta forma, que todo o trabalho de diversas mulheres tão bem sucedidas tenha sido insultado e reduzido a “meras piadas”, porque só me deixa com uma reflexão: como é que ainda há pessoas a dizer que o “sexismo não existe” e a ficar indiferentes a algo que não podia ser mais representativo daquilo que ainda é sofrido por mulheres de todo o mundo. É um pensamento assustador, que se torna aterrorizante quando chegamos à conclusão que é a realidade em que vivemos.


Por isso sim, ainda temos um caminho longuíssimo pela frente mas só espero que se continuem a fazer mais filmes como “Barbie” e que as mulheres bem sucedidas deste mundo não sejam intimidadas a “reagir como devem”, porque quando isso acontecer é quando eu perco completamente a esperança.

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