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Inês Fonseca

papoila do ópio

é na solidão de Kant

que cultivo as papoilas gregas.

coloco o conhecimento empírico

sobre qualquer outro

dou prioridade à quantidade de sorrisos

de lágrimas, ou de suspiros

faço do coração tripas

bombeando o que me move

por entre os que me fazem mover


é “nele” que está o meu ser

é “nela” que está o meu viver

e em mim, nada fica

deixando-me esvair em cada trinca

permito-te um pedaço

do meu ventrículo esquerdo

permito-te que coloques um sinal

“piso escorregadio”

à entrada do teu quarto em mim


pinto os teus corredores

decoro tudo a teu gosto

mais que a mera utopia de casa de férias

mais que a quimera que assusta Luís Severo

que nunca feches o teu olho de lince

que me dês a sorte de lá mergulhar

perder-me naquilo que tens como somente teu

nas tuas palavras nunca ditas

nas tuas ações nunca feitas


retira o suspiro que mantive no congelador

deixa-o queimar-te as mãos,

derreter na fonte do causador e dela desaguar

para a eternidade estagnar

na noite branca por que ambos deambulamos

atentos alunos de Dostoiévski e de Cesário Verde

incapazes de manter a candeia onírica

acesa pelas ruelas de Lisboa, por umas míseras quatro noites.

incapazes de abalar o empírico em prol da lógica sanidade.

mal-aventurados, que nunca permitiram a união dos átomos

que nunca souberam a cor favorita do outro.

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