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Writer's pictureJurpontonal Nova Law Lisboa

para os caloiros


Caloiros,

Sejam bem-vindos. Para os que puseram a nova como primeira opção, parabéns. Para os restantes, deem-nos uma oportunidade, que isto não é mau de todo :)

Estou a escrever-vos como alguém que já viveu o que vocês agora vivem. E digo-vos já. Não há ano como o primeiro. Não há nada como ser caloiro. Mas isso vocês verão. Por agora, aqui vai uma rajada de informação aleatória que – talvez (esperançosamente) – vos servirá para alguma coisa.

Primeiro, há sempre aviões a passar. Vão reparar nas pausas nos discursos e nas interrupções das aulas porque o som das máquinas voadoras abafa as vozes. Eventualmente, irritar-vos-á. Ou então não.

Também há muito verde. Posso garantir-vos que muitos dos momentos de que se vão lembrar vão ser passados no relvado. Ocasionalmente, vão encontrar alguém com uma guitarra; vão encontrar transeuntes a passear os seus cães; vão encontrar crianças a vir e a ir para a escola. Mas mais importante, é nestes jardins que vão passar pela praxe, pelas festas, por piqueniques e por tardes sem aulas em que o sol de inverno está quente e sabe bem estar deitado só a existir. De certeza que o conhecem se seguem a conta de instagram da nova sol. Mas as fotos não fazem jus à sua beleza. É preciso ver de perto.

A verdade é que vão ver menos pessoas do que provavelmente imaginavam. A faculdade é pequena, e dentro da sua pequenez, mais pequeno é o núcleo de pessoas envolvidas em projetos e atividades extracurriculares. Isto vai, potencialmente, fazer-vos confusão. Mas faz com que seja mais fácil conhecer pessoas, e com que haja uma intimidade maior em todos os momentos que são marcos da vida académica, porque a partilha é interior à comunidade da faculdade. A vantagem mais pragmática de sermos poucos alunos é que a proximidade com os professores é completamente diferente. E sei que isto é muito badalado mas é a verdade: se tivesse de referir algo em que sinto que a nova é diferente de todas as outras faculdades, seria a dinâmica dessa relação Professor-aluno.

Há uma coisa que não posso deixar de dizer: Direito na nova pode ser muito mais do que Direito. Também pode ser só Direito, e não tem mal. Mas à volta da licenciatura há mesmo muita coisa a acontecer. O conselho aqui é irem dar uma olhada nos núcleos; são eles que vão – talvez (esperançosamente) – manter-vos sãos.

Que mais... Os Serviços Académicos vão deixar-vos desesperados. Vai haver dias em que ir da faculdade ao metro parece uma travessia – o cansaço acusa, ainda por cima numa cidade como Lisboa, que tem tanto de estimulante como de exasperante (perdoem-se nos dias em que perderem o autocarro, ou o passe, ou a vocês próprios; tenham paciência nos dias em que demorarem hora e meia a chegar a casa, e nos dias em que perderem duas horas no supermercado; o bom vem sempre acompanhado do mau). Aulas que não sejam nos anfiteatros são aulas em que a internet é um bocado preguiçosa. Quem passa pela nova sol tem de passar pelo São Paio: café, restaurante, ou destino predileto dos alunos de Direito a qualquer hora do dia, é nas mesas da esplanada que pousamos os copos, e com eles as nossas preocupações. O pão de queijo do bar da reitoria ‘tá bom e recomenda-se. Toda a gente sabe de tudo, e isso é inevitável – importante não esquecer. Um curso não é, de todo, uma coisa definitiva; tudo muda, incluindo nós mesmos, e está tudo bem. Não há nada como uma saúde bem mandada para alegrar o vosso dia. Os exames são na generalidade obrigatórios, mas são anónimos – uma das maiores vantagens do sistema de ensino da nossa faculdade. Em contrapartida, não há época de recursos. O que é um bocado chato, não vou mentir. Mas são as benes (podem procurar pelo significado no Priberam, ou no dicionário jurídico, mas será em vão), o cúmulo do espírito estudantil da nova sol. Sobre o cartão de estudante, esqueçam, grande quid iuris. Madrinhas e padrinhos e famílias de praxe há aos montes. Aplica-se aqui o mesmo que se aplica no filme da abelha: somos todos primos; o mais provável é que venham a ter um padrinho que é, descobrem depois, vosso avô de praxe (e dos pedidos mais aleatórios saem as relações mais bonitas, acreditem). Como há muita gente de fora, acabam o ano com casas em sítios que nem sequer sabiam que existiam. Há, sim, intervalos nas aulas de três horas (mas é preciso coragem na mesma). E claro, estudar Direito é muito desafiante, mas muito recompensador – quando dizem todos orgulhosos que estudam Direito só não contem das vezes em que quase queimaram os livros.

Aproveito para aconselhar fortemente que deem uma oportunidade à praxe. Quem vos escreve é alguém que entrou na praxe de pé atrás e que lhe é hoje muito grata; as minhas melhores memórias do primeiro ano são de momentos em contexto de praxe; as minhas pessoas – esses seres humanos que iluminam as estradas tortuosas do Direito – foram, muitas delas, pessoas que a praxe me deu.

Vão dizer-vos muitas coisas: que vão ser agentes de mudança, e a antítese do burocrata, e que vão aprender a pensar o Direito. Tudo verdade, com a motivação (e o coração) no lugar certo e algum (bastante) trabalho. Mas de entre todas as coisas que vão ouvir, nada é mais certo: as pessoas que estão ao vosso lado no primeiro dia podem vir a ser os vossos amigos para a vida. Se formos da espécie mais pessimista, dizemos que eles podem vir a ser os vossos melhores amigos durante estes quatro anos (porque a vida é comprida demais). Eu lembro-me de duvidar muito quando me diziam isso. Mas enganei-me. A faculdade é sobre as pessoas. E isso pode significar várias coisas, mas para mim significa isto: fica difícil sobreviver a épocas de exames se não tivermos alguém que ature as nossas dúvidas, lamúrias, e desesperos; traçar a capa não é a mesma coisa se não virmos os nossos amigos traçados também; não é igual voltar à faculdade depois da páscoa ou do natal se não tivermos um abraço à nossa espera; no fim, não adianta ter um diploma se não tivermos alguém que deite uma lágrima ao nosso lado e beba um copo de celebração connosco. Direito é Direito, e tem um brilho inexplicável. Mas o brilho só se torna inesquecível se o partilharmos com alguém.

De resto, aproveitem tudo o que o vosso primeiro ano vos der – guardem também o mau, que as marcas de guerra contam boas histórias. E que esta faculdade seja um trecho bonito do vosso caminho. Da minha parte, recebo-vos de braços abertos naquela que é – na maior parte do tempo – a minha segunda casa.

Boa sorte, caloirinhos.


E vejam lá, que são futuros juristas. Vejam as notícias e peçam faturas; é o mínimo.


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