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Rafael Guerra

Planta


Eu vivia num quarto sem portas nem armários. Tinha umas 2 janelas. Eu era feliz. Tinha uma pequena planta no centro do meu quarto. Uma ninharia. Eu regava-a todos os dias; com os meus crimes. Pois, sim, com os meus crimes – as plantas e os homens sempre cresceram mais com os crimes, claro está. Tinha uma carrada de corpos e corações humanos no canto do quarto. Era feliz. Regava a planta com os meus crimes – e muito sangue. Mas o raio da planta crescia e extravasava fecundamente para fora do seu vaso; e parecia tão bonita que escondia a sua verdadeira natureza – dissimulava; mentia; parecia honesta.


E eu era feliz. E as pessoas às vezes passavam pelas janelas, e viam a planta e sorriam. Era tão bonita. Mas não viam os corpos. Não viam os crimes. Tinha a minha pilha de podridão ali comigo, com aqueles cadáveres e aqueles corações frágeis todos, e havia vezes que me refastelava no sangue todo, em toda a enormidade da minha baixeza vil. Mas as pessoas não sabiam; nem viam. Eu era feliz – as pessoas amavam a minha planta, e eu amava os meus crimes. Desde que não soubessem a minha verdade. Desde que vissem apenas a mentira verdadeira da minha planta e eu escamoteasse a minha verdade mentirosa. Mas a planta continuou a crescer. Crescia, crescia e crescia. Para todos os lados. Mal me conseguia mexer naquele quarto. Espraiava-se pelas paredes, chegava ao teto, espalhava-se por ele como um cancro fértil.


E um dia cravou-se na minha carne. Não soube o que fazer. Gritava exasperado com aquele punhal que me cortava o corpo. Os meus crimes. Enleei-me nos seus estiletes, e a planta varou-me no diafragma, nos braços, nas coxas. Talvez uma crucificação. Eu chorava à noites com as dores que me lancinavam o corpo. Mas eu era feliz. A seiva beijava-me os lábios; escorria pegajosa pela minha pele abaixo, vertia e ressumbrava para dentro das minhas chagas e fístulas sangrentas – talvez, de uma forma insondável, também me fizesse crescer. Eu sabia que eu a fazia crescer, que eu era o seu alimento mais nutritivo – a sua panaceia. Ela deliciava-se furiosamente comigo. Fustigava-me o ventre. Corria-me espinha abaixo, fazendo-me estremecer numa constante vertigem. Às vezes caía desmaiado no soalho do quarto, bêbedo com o meu sangue, com a terra daquele vaso húmida. Com os meus crimes. Insalivado e engargantado por aquela planta demente. Sentia os estomas dentro de mim – a abrir e a fechar, a abrir e a fechar. Eu era parte da planta. Osmoticamente um só com ela. Sentia em todo o meu corpo o seu ardor virente e viçoso, a penetrar-me a vida e a sugá-la; a exaurir-me até à última das minhas inocências. Eu deitava sangue para todos os lados, e a planta sorvia-o, ávida. Aquilo tudo era inebriante. A minha cabeça entontecia com as hemorragias toda – um delírio alucinante. Talvez o meu purgatório.


Mas eu era feliz. As pessoas passavam pela janela e acenavam com entusiasmo ao verem aquela união apaixonada entre mim e a minha planta. Algumas retinham-se fixos por uns momentos na janela – assombrados com o que viam. Apaixonavam-se pela minha planta pantagruélica, que se dilatava perfidamente pela cal do meu quarto. E eu ali, apaixonado pelos meus crimes. Repassado e todo esburacado pelo que fiz. A minha sentença. As pessoas odeiam o crime, mas almejam o amor – como se de duas coisas diferentes se tratassem. Abominam o crime, repudiam, condenam. Matariam para condenar o criminoso. Mas quando viam aquela planta enorme, fecunda, verde e imarcescível, agarrada apaixonadamente a mim, e me viam a mim entrelaçado violentamente nos seus braços, deliravam num desejo de emulação e fogo de cobiça. E não percebiam porque é que aquilo as atraía tanto, não percebiam a sua essência irresistível – os crimes; sempre os crimes. E o sangue.


Um dia meti uma porta no quarto. E as pessoas começaram a entrar. Embriagados pela verdade da minha planta. Mas depois viram os meus corações. E todos aqueles corpos inanimados espalhados pelo chão do quarto. E gritavam em terror. Algumas desmaiavam com a incredulidade e o medo. Corriam infrenes pelo quarto fora como se fossem pequenos animais histéricos e imbecis. Tropeçavam estupidamente nas mil e uma ramificações da planta, nas suas raízes grossas e fecundas, chapinhavam nas poças de sangue, e ficavam de olhos muito abertos e terrificados a olhar para mim, trespassado de cima a baixo, insofismavelmente feliz com o fado que urdi a mim mesmo (e talvez isso aterrorizasse-os ainda mais: o criminoso ciente dos seus crimes; pior, o criminoso apaixonado por eles, meticuloso, premeditado, que se deleita com os seus atos). A fachada caíra: a mentira estava à vista, e a minha verdade não podia ser aceite. O delinquente atreveu-se ao mais barbárico e impensável dos crimes: entregou-se à vida. Mergulhou-a no seu sangue. Fê-la sua. Uniu-se a ela. Por osmose – como com a planta. Deixou-se atravessar por ela; deixou que ela a rasgasse por completo, em nome do amor; em nome do crime; em nome dela. A pena é capital: institucionalização e submissão absoluta à norma. Mais nenhum pingo de sangue será rojado por ti, seu inominável monstro.


Como tal, os chuis apareceram-me um dia à porta. Ou talvez terei sido eu a chamá-los. Um homem está sempre a pedi-las quando decide meter uma porta no quarto. Eles eram desfigurados da cara; animalescos. Senti em mim um arrepio que me estremeceu o corpo chagado quando os vi. Um alívio transtornado enorme. Podia sentir as lágrimas sulcarem-me o rosto. E as lágrimas ardiam-me na pele – e eu nunca cheguei a entender se elas foram de felicidade ou de tristeza. Eles entraram abruptamente. E de repente um enorme remorso paralisante tomou conta de mim. O que é que querem de mim?, supliquei. Esteja quieto e calado, pulha, disseram eles. O que é que eu fiz? Afastem-se, vão-se embora, não, não, não, eu não quero isto, não, deixem-me, vão-se embora e tirem-me a porta do quarto, tirem-me tudo, levem-me tudo mas não me levem a vida, não me levem a planta, não me estanquem as feridas, imploro-vos. E eles pareciam não me ouvir. Continuavam a aproximar-se de mim. Cilindravam as raízes da minha planta com os pés, enquanto cuspiam desprezo à minha verdade. Sentia-me febril. As minhas pernas tremiam. O meu estômago desfazia-se num cerrar de vómitos. Comecei a vê-los desfocados – o meu quarto tornou-se uma miragem; uma mera possibilidade, talvez. Não me façam isto, não me façam…, eu…, a minha mentira… eu… Sacaram de uns grandes facalhões afiados: você vai aprender a nunca mais desrespeitar a norma, canalha. Você está doente, está na altura de pagar pelas suas mentiras. Não…, eu… eu só fiz o que…, as palavras não me saíam. O crime estava à mostra. Como poderiam elas sair, quando as palavras lhes pertencem a eles? Merda para as palavras, merda para tudo, o meu erro foi achar que alguma vez poderia algum dia defender o crime. O crime é indefensável, injustificado, indesmentivelmente desarrazoado. Um impulso fecundo que se aborta a si mesmo. As palavras nunca nos poderão salvar – incriminar-nos ainda mais, no máximo. Salvar, nunca.


E eu gemia em prantos. Com os meus suores frios e as minhas lágrimas e o meu sangue e a minha planta e a minha seiva e… e tudo. Uma vida toda para quê, afinal? E eles continuavam a rosnar – esteja calado, imbecil. E de repente lançaram os seus facalhões no ar. Desferiram uma golpada na planta, mesmo onde ela me tinha perfurado a pele, ao pé do braço direito. Gritei de horror. E eles deram outra. No braço esquerdo. E eu caí para trás, suspenso pelas feridas nas pernas. Bati com a cabeça no soalho gelado e perdi por um segundo os sentidos. E sentia a carne a arder; a seiva a arrancar-se da minha pele gangrenada. E mais uma. Na perna direita. E eu gritava, gritava de medo, de dor, de assombro. A epiderme ficava-me nos estiletes gordos da planta, e a epiderme dela ficava-me na carne esburacada, e eu sentia desfazer-me aos poucos. A ruína de uma vida. A ruína de um criminoso, ela chega sempre – uma vida toda para quê, afinal? E quando me desprenderam finalmente da planta, fartaram-se dos meus gritos, e deram-me uma cotovelada no sobrolho. Esteja calado, mentiroso nojento, gritaram eles. E outra cotovelada, na boca, e na garganta. Espancaram-me o rosto, socaram-me e pontapearam-me o corpo encolhido prostrado no chão. Sou tão pequeno. Sou tão pequenino e frágil. A grandeza de um criminoso – à luz do dia não se basta para uma semente de verdade. Encolhia-me de vergonha. De remorso. A norma pesava sobre mim. E eu ouvia a planta gritar e suplicar, enquanto era decepada com aqueles facalhões ensanguentados. Eu via aquilo tudo enquanto chorava. Agarrado ao chão, encolhido, minúsculo, como um aborto, com a boca a salivar para a madeira, e as lágrimas, e o sangue – chorava, como nunca chorei. Chorava desesperadamente. E eles não paravam de a mutilar, de a violar com aquelas facas, enquanto riam doentiamente com o sangue e o sofrimento todo. Uma vida toda para quê, afinal? Desmaiei. E quando tornei a ganhar consciência eles agarravam-me com as suas mãos grossas e calejadas de crimes. Puseram-me de barriga para cima. E eu vi o lampejo dos seus facalhões outra vez, e o meu corpo vacilou. Esventraram-me ali. Esquartejaram-me, tiraram-me tudo o que tinha. Fizeram-me esvair em sangue, enquanto me gritavam imprecações e impropérios. Cuspiram-me no corpo despido, na minha nuca desprotegida que chorava. Eu era tão pequenino. Mas era o monstro – os monstros são sempre os mais pequeninos e indefesos. Tinha de sofrer. E sofri. E deixei que me arrastassem o corpo inconsciente pelo corpo, enquanto eu me derramava em sangue. Gritei. Gritei até morrer, talvez. Deixaram-me prostrado no soalho, todo aberto. Espraiado à vida. Foram-se embora.


Fiquei para ali, moribundo. Sentia o peso da morte sobre mim. Adormecia devagarinho, devagarinho. Os meus olhos ficavam cada vez mais pesados. Entrevia pelas minhas hemorragias e pelos meus hematomas todos pedaços cortados da planta. Dezenas de pequenos pedaços da planta. Dezenas de pequenos pedaços meus. Espalhados e atirados por toda a parte. Como eu. Chorava. Mas talvez correra pelo meu rosto um último sorriso. O último devaneio feliz do criminoso. Esperneei-me e estrebuchei-me no meu esvaimento para tentar agarrar um dos pedaços da planta, ali mesmo à minha frente. Consegui agarrá-la. E quando o fiz senti-me finalmente em paz. Uma vida toda para quê, afinal? Adormeci rapidamente. Serás para sempre minha. Que morra, mas que leve comigo um fragmento teu. O mundo ensurdeceu-se à minha volta. O sangue já estava quase todo no meu chão. Ouço como de debaixo de água. Mas pela mudez do meu quarto conseguia entreouvir algo no corredor. Um rumor. Uma música talvez. Tocava de leve pelas paredes. Abraçava-se às coisas, e fluía pelo ar. Entrava no meu quarto. De repente percebi. Reconheci a melodia. Eram as nossas músicas preferidas. Ecoavam nos corredores, de fininho. Ecoavam até à infinidade do espaço. Coroavam-me a morte de uma saudade mutilante. Chorei descontroladamente. Chorei delirantemente até perder os sentidos. Chorei como só um mentiroso compulsivo chora. Como um infante. Um recém-nascido.


Tu lembras-te? Se ouvisses as nossas melodias no corredor ao pé do meu quarto, também chorarias por mim? Lembrar-te-ias? Será que me vês aqui espojado no chão? Agarrado à minha vergonha. À minha loucura. Ou serei só eu que me (des)fiz neste espetáculo ridículo de sangue e de crimes para morrer esventrado agarrado ao teu último pedaço? Ao último pedaço nosso. Ou serias tu um dos chuis? Talvez tenha sido mesmo eu a chamá-los. Talvez tenha merecido tudo isto. Será que poderias sentir comiseração uma última vez por aquele que te trouxe todo este inferno? A vida é só para os que não transgridem. A vida é só para os que não a vivem. Tu lembras-te? Chorei doentiamente até perder os sentidos. E morrer, talvez.


Uma vida toda para quê, afinal?


Lembras-te? Do nosso carro, os dois à frente, ninguém atrás. Naquela reta sem fim. Na reta infinita. Éramos só nós, o mundo, o nosso carro e aquela reta. À noite. Sempre à noite. E tu gostavas tanto quando eu acelerava desenfreadamente. Sentias o arrepio doce que te corria peito abaixo até ao ventre ensanguentado. E apertavas as pernas uma contra a outra – adoravas a sensação quando íamos os dois no carro. Eu acelerava, desmedidamente por aquela reta adentro, e rasgava-se no teu rosto o mais macabro e desaforado sorriso que eu alguma vez vira. O maior sim que eu alguma vez lera nos versos de alguém. E os postes de luz que passavam repetidamente sobre nós eram como súbitos ilhéus de lucidez e claridade no meio da nossa obscuridade. E na rádio davam as nossas músicas preferidas, de fininho. Ah, as nossas músicas. Essas melodias que sempre nos coroaram a vida com a descomplicação do amor. E eu acelerava cada vez mais, e olhava para ti enquanto o fazia, com a minha mão na tua coxa fremente. E sentia-te cada vez mais excitada. O peito arfante, o sorriso descontrolado, as pernas que tremiam. Fechavas os olhos num tremor de loucura e demência apaixonada. E deixavas que eu acelerasse ainda mais, e abrias a janela. E deixavas que o vento te cortasse os anzóis negros do teu cabelo. Sorvias o amor do mundo num só trago. O amor todo no teu suspiro desalmado. A possibilidade da salvação num corpo. A aparição do sangue. Mas um dia distraí-me. E escancarei o carro todo naquela reta. Lembras-te?


Tu nunca mais quiseste andar comigo. Demoraste meses até seres capaz de abrir a porta do carro novamente. Quando voltámos a andar não era mais a reta infinita a que estávamos habituados. Eram curvas apertadas e cruzamentos ininteligíveis. Becos sem saída. Estradas de terra batida intransitáveis. Subidas e descidas abruptas. Nunca mais foi a mesma coisa. Mas nós lá atinámos outra vez. Atinávamos sempre. Andávamos por aquele encruzilhada de estradas de um lado para o outro e a certa altura até lhe apanhámos o jeito. Apanhávamos sempre. E talvez houvera mesmo uma altura onde eu julguei ver ecos de um sorriso teu. Aquele sorriso passado, consumido em loucura e desejo no teu rosto, enquanto eu tentava acelerar naquelas sinuosidades todas. E eu tentava, de facto. Deixava o pé afundar-se no acelerador. Mas tu imploravas para que eu parasse. Não éramos mais capazes de andar rápido. Nunca mais foi a mesma coisa. Os acessos da tua loucura cega eram submersos pelo medo. Pela desconfiança em mim. O medo das minhas mãos no volante. Tu já não eras capaz de fechar os olhos e deixares-te ir desamparada no banco enquanto eu acelerava. As tuas pernas já não tremiam premidas uma contra a outra.


Acabou tudo naquela nossa última descida. Lembras-te? A terra toda abriu-se diante de nós. Foi tudo devorado. E tínhamos à nossa frente apenas uma descida vertiginosa. Enorme. Não lhe víamos o fim. Talvez fosse infinita – como a reta. Descia até às profundezas do mundo. E eu lembro-me do teu olhar espavorido. Agarravas-te à porta cheia de medo, mas eu tentava ignorar. Coloquei as nossas músicas mais altas. E comecei a acelerar. Vimos naquela descida infinita a nossa possibilidade de salvar tudo. Mas tu entraste em pânico. Pedias para eu acelerar numa voz trémula, de olhos fechados, enquanto te encolhias no banco. E eu acelerava. Como nunca tínhamos acelerado desde o acidente. E eu ouvia-te chorar, enquanto me pedias para parar. Mas quando abrandava pedias que acelerasse. O medo desgastava-te violentamente, e eu vi-te naquela descida envelhecer séculos. Os teus anzóis negros grisaram-se, e o teu rosto turvou-se de rugas e de uma pele flácida mortificada. Sucumbiste à tua contradição irreconciliável. Sucumbiste à maldição com que te floreei. Acelerei mais. Estávamos a descer freneticamente aquela estrada, quando tu não aguentaste – quando tu sucumbiste. Abriste a porta do carro e atiraste-te. Morreste degolada. Matei-te degolada.


Uma vida toda para quê, afinal?

Acordo de súbito. E está tudo branco. Desperto agarrado ao soalho do meu quarto. Não há mais corpos. Não há mais corações. Não há mais sangue. Não há mais planta. As minhas vísceras encontram-se todas dentro de mim. Levanto-me assustado. Olho freneticamente para todo os cantos do quarto – uma porta, duas janelas, e uma brancura inenarrável. Uma normalidade inquietante. Deito-me na cama e choro. Choro sem motivo. Como um longo grito no escuro – ainda me ouvirias se eu o fizesse? Ecoam nos corredores músicas e melodias que já não são as nossas. Ou talvez continuem a ser – apenas se desprenderam de ti. Não sinto o sangue. Tremo de repente a pensar nos chuis. E se eles voltarem? E se eles voltarem? Adormeço dormente, a pensar na possibilidade de eles voltarem. Se eles voltarem, provavelmente seríamos amigos. Estou estéril. Sou estéril. Uma esterilidade alva – como a brancura deste quarto. Choro a minha inocência. Os crimes acabaram. Paguei a minha sentença. Caio da cama. Agarro-me ao meu tapete, e choro em prantos, soluço num terror visceral. Os crimes acabaram-se. Rebolo-me no chão e acabo de barriga para cima, a olhar para o meu teto. Igualmente branco. Cândido. E penso, Talvez viver assim não seja assim tão mau. Talvez ter um quarto branco seja o que eu mereço. Toco no centro do soalho, onde antes vivia a minha planta. Onde antes vivia eu. Percorro as suas raízes imaginárias. Os seus estiletes. Tento imaginar os estomas dentro de mim outra vez. Falho num exercício infantil de imaginação. Não consigo imaginar mais. Sou um eunuco. Tento imaginar a planta na sua grandeza. Em toda a sua fecundidade passada. E de repente reparo nas marcas do teto. Onde a planta se tinha colado, com as suas ventosas transbordantes de seiva e de sangue. Braços alongados castanhos que percorrem os cantos de todo o meu teto. Sorrio em desespero. O crime persiste.


Uma vida toda para quê, afinal.

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