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Simão Azevedo Costa

Poemas Soltos


Pedro


João era o nome do seu bisavô,

Pedro é o seu próprio.

À moda da lusa ruralidade,

É tratado pela vizinha idosa comunidade,

Pelas senhoras como grande garanhão,

E por todos como Pedro João.


Dezoito anos de vida.

Nortenho de coração.

Em beleza e cultura,

Se banha o Pedro João.

Um metro e oitenta,

Português de imigração.

Em perfume e boa roupa,

Se ducha o dito Pedro João.


De todas as habilidades que

Três anos na Gália lhe deram,

Destacam-se,

Ser cortês,

Ter mundo,

E falar francês.



O passado


Dos quatorze aos dezassete

Morou na Cidade do Amor.

Foi Paris que assistiu

Ao crescimento,

Desenvolvimento

E descobrimento,

Do até então,

Inocente Pedro João.


Das ocasionais bebedeiras,

Às grandes fumaradas,

E até pequenitas ilegalidades.

O que, ao recuar e refletir,

Realmente o marcou,

Foram as grandes aventuras

No campo do amor.

Neste tudo tentou,

Em público ou privado,

Com as suas garinas citadinas.

Na escola era uma vergonha,

Mas para elas nunca estava desmotivado.

Quatro namoros e tantas outras,

Tanta ação Paris lhe vira encetar,

Que não admirava

Se Capado tivesse o seu Morgado ficado.



Estranho Paradoxo


O regresso do nosso garanhão,

Do nosso Pedro João,

À sua terra natal,

Deu-se há alguns meses.

Era janeiro quando regressou a Portugal.


Frio de rachar

E o seu quarto fazia questão

De o tentar congelar.

Por cá viu-se obrigado,

Ao 12° ano acabar.

E por aqui se tem visto,

O luso paradoxo deste João.

Na sala de aula,

Ladino passou a ser.

Com as garotas,

Sorte deixou de ter.


Pobre Pedro João,

Tanto patrocinou o regresso a Portugal,

Para com o seu existencial pilar,

Deixar de ficar.


Os pais ainda o tentam animar,

Da futura universidade

Não param de falar.

Mas a única coisa que o filho quer,

É uma rapariga para amar.



Momento Notificativo


De pobre em pobre,

Quase caímos no erro

De pensar que em pobreza

Vive este rapaz.

Esta só no amor se verifica.

Dinheiro, ao Pedro João,

Nunca faltou.

Por este nunca chorou,

Nem laborou.


Da independência que João tinha,

Nenhum outro moço se podia gabar.

Este é também o maior sintoma

Da falta de amor do seu lar.

Por isso ficou o Pedro João

Muito surpreendido quando

Sobre a sua infelicidade, viu pai e mãe falar.


Abriu o seu Instagram

E saltou com a notificação.

Uma bela Inês lisboeta,

Que coisa linda!

Pediu para a seguir

E ela prontamente aceitou.

Terá sido o sinal?

Santa notificação!

Procedeu imediatamente João,

A dar like numa foto da Inês

E do seu cão.



A traição


O Pedro João é um amor,

E está apaixonado

Quer muito atirar-se,

Sem querer parecer forçado.


Entre ele e o alvo,

Há um pequeninho problema,

Com 300 quilómetros de extensão.

Mas não desiste,

Mesmo lisboeta,

A gata é um avião.

Por isso, entre as DM do Instagram,

E ocasionais chamadas de voz.

Fica, coitado,

Continuamente em desalento,

Por continuar só.


Finalmente,

Nem quer o João acreditar

O avião aceitou

Por ele ser pilotado.


Dia Sim,

Dia Não,

Lá vai ele,

Lá vai o Pedro João.

Ver a pessoa amada,

A que se diz apaixonada.

Não sabe, porém, o João,

Que o seu tão lindo e emocionante amor,

Não é em nada correspondido.

O pobre Pedro João,

Não sabe que a cada Dia Não,

A pessoa amada,

A que se diz apaixonada,

Recebe sozinha na sua casa,

Outra que, tal como o pobre João,

É tão ou mais aldrabada.

Pobre Pedro João.

Não merece o que lhe faz,

A pessoa amada,

A que se diz apaixonada.



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