top of page
Riccardo Noronha

Por um dia que não o seja, vazio

Por um dia que não seja de ninguém, por um dia sem nome. Possam todos os dias do ano para sempre ser vazios de nome mas cheios de alma e sentido, possamos todos deixar as correntes que nos ligam a estes nomes inúteis, reflexo da sociedade sectária e perpetuadora do preconceito horrível e condenatório que há muito tempo fingimos que queremos combater e aniquilar, mas que continuamos de forma cobarde a perpetuar.

Paremos de fingir que nos importamos com as classes que apenas construímos nas nossas cabeças e resolvamos aceitar como discriminadas e façamos de facto algo por elas. Dar um nome aos dias do ano como forma de fingir que nos importamos com os direitos de quem é impedido de viver uma vida plena nada mais é do que um profundo desrespeito a quem perde a sua vida fruto das consequências desta nefasta e hipócrita construção que a todos é impingida.


Deixemos de inventar dias das mulheres e meses da história negra, deixemos de inventar todas estas formas de discriminação positiva que nada mais fazem senão conservar, em última instância, a discriminação real que todas estas gentes sentem no seu dia a dia.


Comecemos, ou, pelo menos, pensemos em começar - que não seria mau de todo, dada a escala trágica que este delírio coletivo atingiu - a considerar cada um como um ser único e irrepetível, com todas as consequências que a esta atribuição estão associadas. Continuemos este caminho verdadeiramente emancipatório e libertador. Demos a cada um de nós, independentemente de onde vem, de quem são os seus pais, da sua condição socioeconómica, da sua etnia, da sua orientação sexual, de todas estas características que ninguém escolhe e nem deveria querer escolher, a capacidade de se afirmar enquanto indivíduo único e irredutível que é, capacitemos cada um de nós para que, de forma informada e independente, possamos acabar com a discriminação e com o preconceito que a tantas pessoas aflige e impede de viver, que sufoca e mata.


Por um dia que seja reflexo da verdadeira capacitação de todos nós enquanto seres humanos, por um dia sem nome, por um dia em que todos olhemos para o outro como nosso igual e não precisemos de enfiar as pessoas em caixinhas inúteis e divisórias inventadas, por um dia em que cada um de nós consiga olhar para todos os outros como um verdadeiro ser humano, igualmente capaz e merecedor da mesma confiança e responsabilidade que atribuímos a nós próprios.


Por um dia vazio de nome, mas cheio de significado.


12 views

Recent Posts

See All

Lápide

Commentaires


bottom of page