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Anónimo

Quando o tacho é grande, todos querem de lá comer

É regra das faculdades de Direito a formação de pessoas com grande capacidade crítica, e, diga-se desde logo, que qualquer jurista que se preze consegue sair da sua bolha político-social para refletir não só acerca do mundo que o rodeia, como da sua própria condição enquanto participante da sociedade.


Ao fim de algum tempo a frequentar os corredores desta casa, e já sem a êxtase da novidade e do falso sentido de poder que ser estudante de Direito cria nos mais deslumbrados, consigo hoje reconhecer em mim sentido crítico suficiente para identificar os pontos mais fortes e os mais fracos da instituição que escolhi para me formar. Embora haja pano para mangas no que toca a pontos fracos, há que admitir que a Nova Direito continua a ser uma, senão a melhor, faculdade de Direito do país – uma Universidade pública, contemporânea, livre de assédios, e que se preza pela inovação no ensino e nas matérias que oferece.


Fora esta análise de questões estruturais de quem já muito viveu nesta escola de Direito, há uma outra questão que se tem vindo a instalar na comunidade estudantil e que salta cada vez mais à vista – intenções políticas não declaradas.


Apesar de ser grande apologista da liberdade de expressão e do confronto direto com controlo de danos, passou a ser difícil ignorar o palco que se insiste em dar a uma politização maldosa daquilo que é o ensino e cultura da nossa faculdade. Por mim falo, que aqui escrevo para que alguém leia e se identifique com a minha causa.


Embora saiba que a vida é politizada e que quem não o é, é porque vive confortavelmente o suficiente para não precisar de o ser, custa sempre engolir que campanhas feitas à volta dos valores mais fundamentais de um estudante, não passam de uma mera manobra populista para se conseguir um pouco de destaque fora do mundo académico, e bastante atenção dentro dele. Jogada atrás de jogada, as peças mais populares vão limpando o tabuleiro neste jogo minucioso e complexo que é o xadrez da carreira política.


Ao fim ao cabo, parece que não existe uma grande vontade de contrariar aquilo que tanto se critica – continua a ser nas faculdades de Direito que nascem a maioria dos políticos governantes. Desde a Associação de Estudantes a núcleos da mesma, vão surgindo como cabeça de cartaz figuras que estabelecem subtilmente paradigmas ideológicos na sua (pouca e medíocre) atividade – vão se levantando as bandeirinhas até que o público-alvo aplauda de fora, enquanto se atira areia para os olhos dos eleitores ao tentar dissimular as suas decisões mais questionáveis.


Parece-me que está lançada a ideia de que isto é uma guerra e que alguns são mártires que dão o corpo ao manifesto pelos direitos dos estudantes. A guerrinha foi declarada: os estudantes contra o sistema. Mais complicado é constatar que efetivamente a guerra tem dado frutos – nem se viram mudanças significativas, nem se manteve o compromisso de atividade de qualidade a que estes mártires se propuseram.


Não vendo resultados nem novas dinâmicas na esfera da comunidade estudantil, toda esta revolta só me leva a crer que é quase certo que os resultados estejam na esfera individual de alguém. No meio de tantas publicações indignadas, protestos legítimos, e campanhas revolucionárias, dou por mim estagnada exatamente no mesmo lugar – nem há novo conteúdo informativo de qualidade, nem há atividades que acrescentem algo de inovador aquilo que já foi feito.


Dada a inércia da dita revolução, surgem boatos de falência, demissões, guerras pessoais, disputas de ego e, fundamentalmente, surge uma grande falta de prospetivas de futuro para aquilo que deve ser uma comunidade estudantil imparcial e livre.


Como perspetivar negociações de paz com quem tem a faca e o queijo na mão se se insiste em odiar gratuitamente? Verdade seja dita sobre estes protagonistas: parecem vir a revelar-se pouco interessados nos momentos cruciais de decisão crítica e sensata, já que os seus olhos estão noutra meta. Já se sabe que quando o tacho é grande, todos querem de lá comer.


Meus caros, as revoluções fazem-se com luta, alicerçadas de valores fortes, e sustentadas por aquela que deve ser uma realidade livre, mas acima de tudo, fazem-se por e com pessoas convictas e desprovidas de qualquer intenção que não a revolução em causa.


Não é progressista derrubar ideais para os substituir por outros igualmente deficientes e contaminados, representados por pessoas que desejam mais do que qualquer revolução e bem comum estudantil, subir no pódio e gritar de cravo ao peito “Nós somos a verdadeira mudança”. Não é inovador pegar em problemas reais de estudantes reais, e fazer com eles campanha para carreira política. E, por fim, como qualquer bom político deve saber, não é revolucionário tentar sabotar relações diplomáticas com instituições que não se pautam pela opressão.

Tudo isto não é revolucionário, é reacionário.


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