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Inês Fonseca

Rosa - Melopeias


Track 1 - Nádia


Melopeia: Abres o livro e, de repente, novas personagens passam a figurar na tua história. A tua existência só a ti pertence, mas algo em mim flutua sempre que me lembro que dela faço parte. No próximo capítulo, espero um papel com mais carga (não emocional, por favor). Por enquanto, deixo-me navegar naqueles que são os parágrafos que tu aprendes a colocar.



Nádia sem nada a perder
Nádia quer tudo esquecer
Quer ser outra mulher num lugar qualquer
Longe do que a viu nascer
Nádia sem nada a temer
Nádia com tudo a temer atravessa o mar Egeu
Escuro como breu dois filhos, um abraço
Frio, medo e cansaço

Dias e dias, noites e noites
De uma viagem sem fim
Podem um começo e um final
Ser tão iguais assim?
Dias e dias, noites e noites
De uma viagem sem fim
Podem um começo e um final
Ser tão iguais assim?
Podem um começo e um final
Ser tão iguais assim?
Nádia não sabe nadar nádia no meio do mar
Tem a cara já molhada ajuda a disfarçar
As lágrimas que devolve ao mar ah ah ah


Track 2 - O Melhor Presente


Melopeia: A chama brilha e apazigua. É impossível mantê-la em cativeiro, guardá-la só para mim. A chama, de vez em quando ameaça, ou apagar-se, ou incendiar tudo a seu redor. Solta uns palavrões, quer quando os tachos caem das suas mãos trémulas, como quando tenta sair da cama às escuras e esbarra contra móveis que sempre ali estiveram (ainda que ela jure que não); chora quando percebe que nem os bombeiros conseguirão extinguir o seu excesso; ensina a mover montanhas, e a chegar até elas; mostra que nem tudo o que causa arrepios na espinha é mau (mas arroz de peixe é, ainda que feito por ela); e acima de tudo, prova que o amor não cabe em potes. No colo da minha chama sinto-me tão mais quente, tão mais viva. Quem me dera que os relógios se queimassem, os calendários ardessem, e que tudo a cinzas restasse, apenas para que o meu pequeno fogo comigo permanecesse. Para que ao seu colo pudesse sempre voltar.



Vais receber o melhor presente
Que o saibas estimar e querê-lo pra sempre
Que o saibas cuidar tudo ensinar
Que o saibas amar
Vais receber um melhor amigo
Que vai partilhar a vida toda contigo
Os irmãos mais velhos são
Os heróis do batalhão da nova geração
E no meu colo sempre haverá espaço pra dois
Que o colo de uma mãe
Aumenta quando chega alguém
Por mais que ainda não
Entendas posso prometer
Que este é o melhor presente que irás receber
Vão discutir, não vais ter paciência
Vais exigir a tua independência
Tudo isso é normal fica sempre igual
Não te vou mentir ah ah ah
Vão discutir quem tem o comando
O lugar do carro, quem toma banho primeiro
Mas uma coisa eu sei não vai haver ninguém
Que te conheça tão bem
E no meu colo sempre haverá espaço pra dois
Que o colo de uma mãe
Aumenta quando chega alguém
Por mais que ainda não
Entendas posso prometer
Que este é o melhor presente
Que este é o melhor presente
Que este é o melhor presente que irás receber


Track 3 - O Verdadeiro Amor


Melopeia: “We didn´t realize we were making memories. We just knew we were having fun.”



Se eu fosse tua e tu fosses meu
O mundo inteiro iria ver
O verdadeiro amor acontecer
E esse amor seria para o mundo inspiração
E em cada canto, cada lugar
Alguém se iria apaixonar
Dentro do meu peito há um amor prisioneiro
Que anseia a liberdade
Mas teme a perpetuidade
De amar sem ser inteiro
Mas eu sou tão tua e tu não és meu
E o mundo inteiro não irá ver
O verdadeiro amor acontecer


Track 4 - Dois Namorados


Melopeia: “I’ll go.” “And I’ll stay.” “And we’ll be okay.”



Quando nada indicava
Que a vida que levava
Fosse mudar rápido assim
Pois eu era mais velha
Que os velhinhos do jardim
Quando os dias não passavam
E só falava na saude
Vi-te na rua, reconheci-te
Dos nossos tempos de juventude
Não tinhas casado
Nem tinhas ninguém
E disseste ser feliz assim
Que a única mulher
De quem gostaste de verdade
Mas que já tinha cara-metade
Foi de mim
E dormimos encaixados
Dois namorados
Sem tempo a perder
Cabelos brancos desalinhados
Pés entrelaçados
Já sem medo de adormecer
E eu que acreditava
Que a vida só nos dava
Um amor assim uma só vez
Dou-te um abraço apertado
E vamos de braço dado
Para todos verem o que a vida fez
E dormimos encaixados
Dois namorados
Sem tempo a perder
Cabelos brancos desalinhados
Pés entrelaçados
Já sem medo de adormecer
Já sem medo de adormecer


Track 5 - Benjamim


Melopeia: Voam os beija-flores atrás das suas bagas, por entre o cimento da vida moderna, com o seu bater de asa acelerado, para que se fale em “efeito borboleta”. E os patos? Que um dia acordaram e decidiram usar todas as capacidades, que em uníssono, foram rejeitadas aos humanos, sabe-se lá por quem quer que nos tenha feito (eu sei exatamente quem me fez, já tu…). Os patos voam, andam e nadam. E nós, míseros humanos, ficamos contentes por termos máquinas (atenção, por nós criadas) a fazer o mesmo serviço que um patinho cambaleante do Jardim da Gulbenkian. Pobre, Benjamim. Que não se pode dar ao luxo de voar livremente como um beija-flor, ou de ter todas as capacidades do pato do Pocoyo, mas que nele possui a racionalidade de amar outro alguém. Quer dizer, será que possui tal razão?



Sabes tudo de mim o meu princípio e fim
Onde quero ir e onde não vou
Sabes ver dentro de mim
Onde ninguém pode entrar onde os que vieram
Não querem voltar
E assim vivemos os dois
Sem fazer conta de nada somos morada
Dos nossos corações amando só porque sim
Vivemos assim eu pra ti, tu pra mim
Meu Benjamim
Amas mesmo em dia não
E quando não peço perdão
Quando o vento sopra noutra direção
E assim vivemos os dois
Sem fazer conta de nada somos morada
Dos nossos corações amando só porque sim
Vivemos assim eu pra ti, tu pra mim
Meu Benjamim


Track 6 - Só Um Beijo


Melopeia: “Vá, anda!” “Eu canto a parte da Luísa.” “Okay, eu fico com a do Salvador.” Todas as minhas mini criaturas, encarregues das minhas emoções, estagnaram as suas tarefas diárias, para que naquele momento, só os meus olhos, os meus ouvidos e o meu coração, trabalhassem. Um batimento falhou, uma nota não foi captada, e a minha visão rapidamente ficou turva. Francamente, que trabalho tão mal feito.



Já te pedi
Até insisti
Para não chegares perto
Perto de mim
Que é melhor assim
Que é algo incerto
E eu não sou de grandes paixões
Quebrar corações não é para mim
Prefiro evitar, no meu canto ficar
É melhor assim
Mas tu não me quiseste ouvir
Voltaste a insistir
A chegar perto assim
Egoísta ruim
Sei que foi só um beijo
Mas não foi só um beijo
P'ra mim
No instante em que te vi
Deixei de procurar
Não tinha mais sentido
Se aquilo que buscava
E sem saber sonhava
Era contigo
E desde logo, ignorei o teu pedido
Pois o que dizia a tua boca
Era pelos olhos desmentido
Investi sem hesitar
Nunca quis nada tanto assim
Tudo fiz por um beijo
Mas não foi só um beijo
P'ra mim
Já te pedi (no instante em que te vi)
Até insisti (deixei de procurar)
P'ra não chegares perto (não tinha mais sentido)
Perto de mim (se aquilo que buscava)
É melhor assim, que é algo (e sem saber sonhava)
Incerto (era contigo)
E eu não sou de grandes paixões (e desde logo)
Quebrar corações não é para mim (ignorei o teu pedido)
Prefiro evitar, no meu canto ficar (pois o que dizia a tua boca)
É melhor assim, mas tu (era pelos olhos desmentido)
Não me quiseste ouvir, voltaste a insistir (investi sem hesitar)
A chegar perto assim (nunca quis)
Egoísta ruim (nada tanto assim)
Sei que foi só um beijo (tudo fiz por um beijo)
Mas não foi só um beijo (mas não foi só um beijo)
P'ra mim (pra mim)


Track 7 - Maria do Mar


Melopeia: “Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!»”



Todos os dias Maria olhava o mar pela janela
Maria era do mar mas o mar não era dela
E por viver numa ilha
No meio do azul plantada maria além do nome
Tinha o mar como morada
Maria, Maria do Mar se o vento voltar
Solta o cabelo vai ver os barcos partir
O dia há-de vir em que um queira ficar
E só no teu nome navegar
Sabe prever tempestades conhece as marés
E os peixes que bem cedo
Lhe vêm beijar os pés
Maria, Maria do Mar se o vento voltar
Solta o cabelo vai ver os barcos partir
O dia há-de vir em que um queira ficar
E só no teu nome navegar
Uh uh uh uh uh uh uh uh
Uh uh uh uh uh uh uh uh
Uh uh uh uh uh uh uh uh
Maria, Maria do Mar se o vento voltar
Solta o cabelo vai ver os barcos partir
O dia há-de vir em que um queira ficar
E só no teu nome navegar
E só no teu nome navegar
E só no teu nome navegar


Track 8 - Não Sei Ser


Melopeia: Provavelmente, o que aqui escrevo só faz sentido devido ao prolongar da noite. No entanto, é com as estrelas que percebo que a minha vida é uma pintura, na qual somente eu tenho o pincel. É com as estrelas que percebo que se o que penso me faz sentido enquanto ser pensante, ao menos uma pessoa, dentro das muitas outras que por esta altura já no terceiro sono se encontram, concorda comigo. Não há outra sensação como a de concordância com nós mesmos. Quem sabe se a lua também concorda. Pena que alguém, verdadeiramente esfomeado por respostas, lhe deu uma trinca tão grande, que hoje ela nem sabe o que vestir para na festa dos meus pensamentos aparecer.



Assim que nasce a manhã
E me acorda bem devagar
Vejo se decidiste voltar
E a desilusão faz de mim derrotista
Balanço na corda da vida como um equilibrista
Não sei ser não sei ser sem ti
Não sei ser não sei ser sem ti


Já só com um sopro canto
Até que ele chegue ao fim
E há um vazio no peito
Um não saber ser por direito
E algo que sem se ver
Faz-me um ser imperfeito
Não sei ser não sei ser sem ti
Não sei ser não sei ser sem ti
Já só com um sopro canto
Já só com um sopro canto ah ah ah
Ah ah ah até que ele chegue ao fim


Track 9- Querida Rosa


Melopeia: Petit Gateau de caneca!


Ingredientes:

- 4 colheres (sopa) de farinha de trigo;

- 4 colheres (sopa) de açúcar;

- 4 colheres (sopa) achocolatado em pó;

- 1 ovo;

- 2 colheres (sopa) de leite;

- 2 colheres (sopa) de óleo.


Preparação:

1) Numa caneca de cerca de 300ml (que possa ir ao microondas) misture bem a farinha, o açúcar e o achocolatado;

2) Acrescente o ovo e misture bem com um garfo;

3) Por último, misture o leite e o óleo;

4) Leve ao microondas em potência alta por 3 minutos (dica: a partir da metade do tempo, quando a massa começar a subir, desligue o microondas, espere que a misture baixe e ligue novamente, repita a operação até que a massa não baixe mais: o bolo estará pronto).


Bon appétit!



Querida Rosa, és a flor mais bonita
Que algum jardim viu nascer
Pode haver no teu canteiro uma rosa parecida
Mas nenhuma tem o cheiro
Da flor da minha vida
Querida Rosa, minha prosa, poesia
És a mais bela sem saber
E se alguém vier certeiro
Pra ter colher, primeiro
Terá antes de me ver morrer
Serei o teu fiel jardineiro
Mesmo quando a primavera terminar
Se te crescer um espinho
Cuidarei com carinho
Para que ele não te possa magoar
Querida Rosa, se o mundo acabasse
E só ficasses tu e eu
Para mim bastaria saber que acordaria
Cada dia com um beijo teu
Serei o teu fiel jardineiro
Mesmo quando a primavera terminar
Se te crescer um espinho
Cuidarei com carinho
Para que ele não te possa magoar
Se te crescer um espinho
Cuidarei com carinho
Para que ele não te possa magoar


Track 10 - Mesma Rua Mesmo Lado



Melopeia: A esperança média de vida, em Portugal, regista-se entre os 77 e os 83 anos. Setenta e sete anos são anos a mais para quem se resigna com o que tem. Alguém que se conforma com a vida que leva, bem pode esperar que essa vida se conforme consigo. Desde pequena fui ensinada a “relativizar”. Se o meu irmão berrava a plenos pulmões, eu devia “relativizar”. Se a educadora se esquecia de colocar o meu desenho no quadro que ficava, na entrada da sala, à vista dos pais, eu devia “relativizar”. Hoje em dia, quando o Spotify se lembra de enfiar, sorrateiramente, um anúncio (um ou seis) na minha playlist, eu devo “relativizar”. Contudo, ninguém me diz que devo “relativizar” a minha existência e aquilo que quero fazer dela. Eu não quero ser como o Carlos (chamemo-lo assim) desta música, que “relativizou” demais, até ver a vida a passar-lhe à frente dos olhos. Nada contra os “Carlos”, mas também nada a favor. Às vezes, também me sinto um “Carlos”.



Eram os dois da mesma aldeia
Mesma rua, mesmo largo
Mesmo jeito de criança
Mesmo olhar envergonhado
Havia até quem dizia
Que eram uma só pessoa
Pois só se separavam
À noite quando chegavam
À rua onde moravam
Mas o tempo foi passando
Com ele o jeito de criança
E aquela uma só pessoa
Já era quase só lembrança
Ele esperava por ela
Mas ela tinha outros planos
Tinha encontrado o amor
Amor que ele conhecia
Há tantos, tantos anos
Foi da janela do quarto
Que a viu sair para o casamento
Chorou como se estivesse
No altar naquele momento
E foi dizendo bem baixinho
Que prometia ser fiel
E a ali naquele momento
Sentiu o toque dela
E lhe deu o anel
Preferiu viver sozinho
Para se ela quisesse voltar
Mesmo quando bem velhinho
Não se cansou de esperar
Sabia que ela estava longe
Mas não deixou de acreditar
Que um dia ela viveria
Na mesma aldeia
Mesma rua, mesmo lado
Mesmo lar


Track 11- Envergonhado


Melopeia: “Como é que cabe tanto fulgor, tanta vida, tanto amor, dentro de alguém? E como é que esse alguém consegue viver num mundo tão restritivo, num mundo onde ter raízes fixas é a obrigatoriedade da existência das árvores, num mundo onde os cafés vêm queimados e custam mais de 50 cêntimos?” “Podes dar um dia de folga ao teu coração? Estou farta de o ouvir resmungar.” “Ele tem umas cordas vocais fortes, não achas?” “Eu só queria beber o meu café.”



Não fiques triste se eu pareço desligada
Isso não quer dizer
Que não esteja apaixonada
Enquanto outros escrevem poemas, declarações
Eu sinto mas baixinho sem mostrar as emoções
Quero que saibas, meu amor
Também eu arrasto a asa
E há uma festa cá dentro
Sempre que chegas a casa
Que quando acordo e vejo
Que ainda não foste embora
É noite de santos cá dentro
Mesmo não se ouvindo aí fora
Perdoa então meu bem o meu modo abrutalhado
Porque este amor apesar de grande
É também envergonhado

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