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Tiago Mancha

Sacrilégio Olímpico: Hipocrisia sentada à “Mesa”

Amar o próximo? Claro, desde que não seja inconveniente. Se restavam dúvidas acerca da necessidade de inclusão da comunidade LGBTQ+ na abertura dos jogos olímpicos, essas dúvidas foram dissipadas pela onda de críticas vindas de grupos cristãos, que reivindicam um falso moralismo, excluindo todos aqueles que não seguem o molde tradicional.


Os jogos olímpicos são, na minha conceção, um símbolo de união, celebração e diversidade, uma festa sem fronteiras, que procura celebrar todos os povos, independentemente das suas diferenças sociais, culturais ou religiosas. A existência da promoção de valores como a inclusão não é algo propriamente novo, relembremos, por exemplo, a abertura dos jogos olímpicos em 2000, onde a cerimónia em Sydney celebrou a rica herança indígena da Austrália, ou os jogos de 2008 em Pequim, onde existiu uma celebração das 56 etnias reconhecidas na China, enfatizando a diversidade étnica e cultural. No entanto, este ano surgiu uma nova faceta - a reação negativa à presença de drag queens, uma hipocrisia que é particularmente dolorosa e reveladora, que não só desrespeita a ideia de inclusão, como também sublinha a aplicação seletiva dos valores de aceitação e de amor ao próximo.


O episódio que tem causado um grande alvoroço nos últimos dias, trata-se da imitação, por parte de drag queens, da pintura “A última ceia” de Leonardo da Vinci, pintura que os cristãos reivindicam pertencer-lhes exclusivamente, e que consideraram ser uma ofensa à sua religião. Ora, promovo sempre e em qualquer circunstância, um profundo respeito pelo princípio da liberdade religiosa, a existência de um estado de direito democrático impõe a garantia da liberdade de defender e expressar quaisquer crenças e valores. O que não defendo é a existência de uma hegemonia ideológica. A liberdade religiosa pode e deve coexistir com as liberdades de todos os indivíduos, e não me parece lógico considerar que a sociedade “impõe uma cultura LGBTQ+”, quando na verdade o que se procura é a igualdade e o respeito por todas as formas de expressão. A última ceia foi representada no âmbito artístico, centenas de vezes nas últimas décadas, como por exemplo, no filme O Segredo de Vera Drake, a Montanha dos Sete Abutres, ou até mesmo nos The Simpsons. E é factual que em nenhuma destas representações se impugnou a onda de revolta e ódio como a abertura dos jogos olímpicos, o que, me leva a permitir concluir que a questão em causa não é a representação em si, mas sim quem a representa. Isto é, o amor ao próximo existe, sim, a menos que não sejas um sujeito cisgénero heterossexual; caso contrário estamos sob uma ofensa religiosa.


Em suma, a verdadeira questão não reside na representação artística, mas na hipocrisia de quem se sente ofendido por ela, se realmente desejamos praticar o amor e a aceitação que pregamos, devemos começar por respeitar e incluir todas as formas de expressão e identidade, sem exceções.


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