Não que queira ser intriguista ou até “confusionista”, mas de facto ironia e hipocrisia rondam nesta faculdade com a mesma facilidade que eu tenho em cravar um cigarro.
Não digo que eu mesma não tenha cometido as minhas próprias atrocidades, até diria que eu própria sou a rainha para exceder limites e zonas de conforto.
No entanto, não posso ser ignorante a coisas, que antes não me incomodavam, e que agora, apenas me deixam alerta de como aquilo que de facto é minoria em Portugal, para muitos acaba por ser a maioria. E digo, não no sentido de querer ser uma voz que sofre isto todos os dias, mas sim como uma pessoa que sempre esteve no meio dos dois mundos. Como uma pessoa que nunca foi branca o suficiente para ter a voz e os privilégios que esse grupo tem e nem negra o suficiente para que possa ser a porta-voz dos verdadeiros sofrimentos e injustiças que o outro grupo sofre. Até porque, esta nuance de pertencer ao meio desta fronteira entre os dois lados, acaba por mudar consoante o ambiente em que me deparo, mas uma coisa é certa, pelo menos nesta questão de me sentir integrada e de me sentir valorizada nunca foi posta em causa na minha terra, mas nesta, que também é minha por direito e nesta faculdade que, agora, também faz parte de mim, a história começa a ser outra.
Não digo que haja uma deficiência de noção porque de facto não há, mas diria que há uma deficiência de consciência. Consciência de que ao tentar evidenciar algo que já existe (e que permanece de forma orgânica) num modo totalmente artificial, acaba por, pelo menos para a minha pessoa, desvalorizar e arrisco em dizer desrespeitar um grande número de pessoas que em primeiro lugar nunca se sentiram inferiores.
Nunca imaginei que algum dia fosse sentir um tamanho desdém em ouvir pessoas perguntar se há ou não alunos PALOP (países africanos de língua oficial portuguesa) e automaticamente sentir os seus olhos em cima de mim como se esperando que eu me denuncie como não portuguesa, o que por sinal, não é verdade, nem mentira, sou os dois e não espero que me discriminem ou se iludam com essa ideia só por não parecer a típica capa daquilo a que chamam português. Ou então a típica piada que é saber que ainda existem pessoas que se agarram e idolatram estas “minorias”. E que sentem uma “enorme” afinidade e compaixão pelas mesmas, mas lamento informar aos caros senhores doutores e doutoras que quem transporta desta “excessiva” empatia por nós, “minorias”, não passa se não acima de tudo, de um pobre coitado que não tem noção do próprio mundo que o rodeia.
E a justificação para isto encontra-se nesta ignorância, nesta falta de conhecimento e esta possível curiosidade de querer conhecer e de não entender, por isso, realmente como é que as coisas funcionam. E daí surgirem questões como esta, que até podem incomodar e que eu até tento relativizar, mas como disse sou pessoa e até estes pequenos assuntos que geralmente não incomodam…às vezes incomodam.
E compreendo que talvez haja uma falta de conhecimento e que haja esta constante necessidade de mostrar ao mundo a evolução e reconhecimento que por hoje passamos, mas apesar de tudo isso ser de facto verdade, não vejo, sinceramente, a urgência de ter de provar alguma coisa. Para quê provar algo que já existe, algo que a maioria não diferencia?
Então,
Querida nova, obrigado por me fazeres o teu futuro, mas por favor não me faças de mais uma quota…
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