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Francisco D´Orey

Talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser

Vi recentemente um Tweet que quase poderia ser catalogado como humorístico, publicado por uma rapariga católica que num quase tom de pena, questionava como é que os ateus evitavam depressões e tristeza sendo que não tinham um propósito de vida por acreditarem que surgiram do acaso.


Não pretendo neste texto explorar as razões e possíveis causas de depressão nas mais diferentes pessoas, até porque, mesmo que a crença em algo superior à existência humana atenue alguma depressão ou infelicidade na vida de alguém, ninguém fica deprimido por não acreditar em Deus.


Venho, no entanto, tentar dar o meu ponto de vista sobre o que é, para o ex-católico convicto e (atualmente) ateu convicto que sou, o papel do ser humano na realidade em que vivemos. Fá-lo-ei, está claro, tentando não cair na esparrela de me achar suficientemente superior aos outros ao ponto de pensar que descobri o real sentido da vida.


A religião Católica defende que o sentido da vida é Deus em si e a crença na existência do mesmo, uma vez que esta representa uma passagem para uma realidade espiritual ao lado deste ser. Os filósofos gregos defendiam que o sentido da vida era a prossecução dos desejos e vontades, o conhecimento e a sabedoria ou a virtude. Os Maias acreditavam que tinham sido criados para venerar os deuses, uma vez que os animais não podiam falar para concretizar essa vontade divina. Para os Hindus a vida tem como objetivo confirmar os quatro estágios da existência: Dharma, Artha, Kama e Moksha.


Existem muitas teses sobre qual será o sentido da vida, sobre qual é a finalidade ou o objetivo de viver, mas todas elas têm algo em comum. É preciso viver. Os católicos precisam de viver para acreditar em Deus, os filósofos gregos precisavam de viver para satisfazer as suas vontades, ganhar conhecimento ou tornar-se virtuosos, os Maias precisavam de viver para venerar os seus Deuses e os Hindus precisam de viver para cumprir os quatro estágios da existência.


Talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser, independentemente de crenças, objetivos de vida, vontades ou desejos, tal como é com qualquer ser vivo.


Um Ateu, ao não acreditar em divindades ou forças sobrenaturais superiores a si mesmo, contenta-se com a sua insignificância na vastidão do Universo, não tem necessidade de acreditar que foi criado por um motivo especial, mas acomoda-se no acaso em que foi criado. Não sinto que preciso de um motivo para ter sido criado para além da vontade dos meus pais, mas, tendo efetivamente sido criado e, já que existo, a finalidade dessa existência deve ser… viver.


Será infeliz, como apelidam os religiosos, esta crença no acaso e na insignificância da vida humana? Penso que não. A “Aposta de Pascal” sugeria-nos que entre acreditar ou não na existência de Deus, mais valia escolher acreditar porque se Deus de facto existisse, teríamos um ganho infinito, no entanto, se não existisse, não tínhamos perdido nada.


Poderia apresentar uma outra versão desta Aposta: entre acreditar ou não na insignificância da vida Humana, mais vale acreditar, uma vez que se insignificante se revelar, temos as expectativas preenchidas, e se de facto a vida humana for especial por criação de Deus, apenas temos as expectativas superadas e nunca quebradas, dado que se esse Deus é perfeito e omnipotente (como nos apresenta o Cristianismo), tem a capacidade de julgar a vida humana pelas suas ações e não é arrogante a ponto de condenar alguém por não crer em si.


No entanto, não acho que acreditar em algo só porque essa crença nos traz benefícios seja o caminho mais correto, é até hipócrita e contrário, por exemplo, às doutrinas religiosas. Ao mesmo tempo é impossível acreditar falsamente em algo, porque uma crença é um fenómeno psicológico e mental involuntário que transmite convicção e segurança de ser, pelo que ou existe ou não existe em cada um, não se podendo revelar infeliz (tipo, bolas, fui criado por Deus).


É desta forma que reitero que a crença é inerente a cada um, individualmente, e que é algo que nos diferencia enquanto pessoas, até porque, mesmo dentro da mesma religião há formas de acreditar completamente diferentes umas das outras.


O maior facto que liga todos os seres-humanos é a sua existência como objetivo e finalidade dela mesma, alheia a fatores e disputas ideológicas, filosóficas ou religiosas, pelo que apenas a vida em si pode dar sentido a ela mesma através de cada um.

Sendo assim, talvez o sentido da vida seja apenas viver, talvez o sentido da vida seja apenas…ser!


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