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Sofia Paulino

Teia de Mentiras

Foi uma mentira. Uma ilusão que tu com muito prezar criaste. Era tão perfeita. Até mesmo inacreditável.


Fizeste a tua teia com muito cuidado. Demoraste os teus dias para que cada detalhe estivesse sublime.


Esperaste que eu, a mosca, a presa, se encantasse com o brilho dos fios de seda, molhados pela orvalhada. O sol ao refletir neles deixou-me cega. Cega de alcançar aquele tesouro. Era tão lindo, tão brilhante. Pensei que finalmente tinha encontrado uma mina de diamantes. Estava rica.


Quando afinal não conseguia sair. As minhas asas ficaram de imediato agarradas aos filamentos luzidios. Quanto mais tentava sair, mais ficava embrenhada nos cordões viscosos. Já estava a ficar sem ar, apertada, com o desespero de procurar uma saída rápida. Os dias, que aqui foram minutos, foram de verdadeira cólera. Apesar do pânico, ainda estava encadeada por tanta luz.


Mas, o pavor foi muito maior quando toda esta claridade desapareceu. De repente, puseste-te à minha frente, deixando-me na escuridão. O que consegui ver eram os teus olhos. O teu olhar fixo, gélido e apático que me mortificou. A imposição da tua altura colocou-me num lugar de inferioridade. Quando te aproximaste apercebi-me do quão monstruoso eras. Pavor e nojo era o que sentia quando olhava para ti. Comecei a sentir o teu bafo quente e percebi que seria o fim.


Porém, não o fizeste depressa, como a luz que se apagou quando eclipsaste o sol. Ficava cada vez mais e mais apertada. Enrolaste-me em correntes sobre correntes, até estar bem amarrada, presa, sem qualquer escapatória. Afastaste-me da luz quente dos dias, do toque fresco das madrugadas e do vislumbre da própria vida.


E foste-te embora. Eu ali fiquei à espera que voltasses. Enquanto agonizava, tu desfrutavas da tua refeição anterior. A seguir, era eu, já fria, sem qualquer sopro de vida.


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