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Beatriz Pereira

Um dia (não) hei-de te encontrar

Um dia hei-de encontrar-te…


Não. Afinal não, porque quem assim sonha já derrotado está. Já se sabe que não encontrará o que procura.


“Um dia hei-de encontrar…” - assim começam quase todos os sonhos de amor e esperanças de amizade. Quem assim sonha, já está meio derrotada, já está meio desiludido, porque, em vez de esperar pelo encontro que deseja, já está a procurar. Imaginando parcialmente a pessoa que quer encontrar, como se ela já existisse, com as medidas que o coração encomendou, está a fechar-se a si mesmo. E assim se fecha também ao mundo.”


Miguel Esteves Cardoso


Por isso, não te preocupes, coração. Não te procuro, amor. Procuro não te procurar ou procurar-te com o maior despeito - o tanto quanto seja possível quando a ti me refiro e em ti penso.


Sim… Porque tudo em ti é muito, e tudo em ti é pouco. Deixas-me simultaneamente completa e sedenta. Tens o dom de me encher e deixar sempre a ansiar por mais.


~


Alturas houve em que me questionaria se só tu serias capaz de me fazer sentir assim. Diria que te havia de (não) procurar a ti e a muito mais pessoas. Acreditava que podia acolher todos aqueles que pelo meu caminho se atravessassem e com os quais me identificasse. Só depois percebi que a ânsia que me fazes sentir, nada se iguala à ânsia que a Alice, a Carolina e o Diogo provocam em mim. Sim, fazem-me todos feliz, fazem-me todos ansiosa, desejosa do reencontro, mas nenhum faz a minha barriga contorcer-se de forma tão agradável. Só tu és capaz dessa proeza. Remóis as minhas entranhas, mas nunca me deixas enjoada.


Oh! Quão enganada estava… Achava que o meu coração era grande o suficiente para que vivessem cá todos. Achava que a minha mão seria capaz de escrever cartas para dois, três, quatro - para quantos tivessem de ser - sem que se lhe formassem calos. Dizia, na minha ilusão de quem tem pouca experiência no mundo do amor, lamechas, que o meu coração não tinha ordem, nem andares, como um prédio tem. Não acreditava na existência de uma direita e esquerda, cima e baixo.


Foste tu que me ensinaste que estava errada. Arruinaste as (não) fundações que tinha construído. Fui obrigada a começar uma obra e a reorganizar o fio de pensamento.


Sim. Depois de não te procurar, encontrei-te. Mudou tudo, nessa altura. Percebi que, mesmo que o meu coração tivesse lugar para mais pessoas, tu serias sempre a peça central… Tu, meu amor, ocupaste não só o teu lugar, mas também o que estava guardado para tantos outros.


~


Talvez, quando o futuro assim o ditar, transformemos cada cavidade deste coração, que é nosso, num hotel. E tu serás o cliente que aluga um número de quartos interminável por um tempo indefinido... E não! Que ninguém te passe à frente na fila de espera! Eu aumento o preço da estadia e crio cartões VIP; faço descontos exclusivos e envio-os só para o teu e-mail; anuncio obras e não volto a dar notícias aos investidores. Porque, sim, eu aceito novos hóspedes, mas nenhum deles terá direito a um pacote tão especial quanto aquele que eu te prometo.

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